domingo, 15 de agosto de 2010

E o espetáculo continua
Roupa Nova conta histórias e faz revelações nos 30 anos
 de carreira
Foi nos bailes da vida, como canta Milton Nascimento, que essa gente boa pôs o pé na profissão. No fim dos anos 70, Paulinho (vocal e percussão), Cleberson Horsth (piano e vocal), Serginho Herval (bateria e vocal), Kiko (guitarra, violão e vocal), Ricardo Feghali (teclados, violão e vocal) e Nando (baixo, baixo acústico, violão e vocal) eram Os Famks, “grupo mundialmente conhecido pelas pessoas do subúrbio carioca”, brincam. Em 1980, por conta de uma outra música de Milton, foram rebatizados “Roupa Nova”.

 A partir daí, a carreira do sexteto decolou. É número que não acaba mais: em 30 anos de trajetória, 22 discos lançados, aproximadamente 18 milhões de cópias vendidas, mais de 50 hits emplacados dentro e fora do Brasil, mais de 30 trilhas sonoras em novelas, alguns prêmios e milhares de fãs e seguidores. E, mais do que tudo isso: muita história para contar...

Canal Extra — Desde o início, o Roupa Nova recebeu vários rótulos, entre eles os de banda de baile e banda brega. Incomodou?

Serginho — Quando você está batalhando, tentando acreditar no seu talento, é difícil administrar e assimilar determinadas críticas. Logo no início, quando gravamos o nosso primeiro disco, fomos apadrinhados pelo Milton Nascimento. E isso foi como um carimbo de qualidade. Sofríamos perseguição por sermos do subúrbio carioca, o que é uma bobagem. Você não precisa nascer na Zona Sul para ter talento. Taí o Zico como exemplo! O Milton veio dos bailes, cantava na noite, assim como a gente. E ele nasceu na Tijuca!

— Em 2004, com o lançamento do DVD “RoupAcústico”, o Roupa Nova voltou à grande mídia
 O que acontecia até então?
Serginho — A gente nunca parou. Sempre fez turnês, com um público muito fiel.

Kiko — Esse DVD foi um boom porque saiu do jeito que a gente queria. Rolava uma briga entre editora e gravadora e nosso repertório estava todo preso. Então, rescindimos contrato e nos tornamos donos do nosso próprio nariz.

Feghali — Chegamos a um momento da nossa vida que, além de artistas, somos empresários, matemáticos, de tudo um pouco. É uma grande responsabilidade, mas que vale muito a pena.

— Com selo próprio, sentem a competição com outras gravadoras?

Cleberson — Tem gravadora que fica só esperando lançarmos nosso novo CD para colocar nas ruas mais uma coletânea do grupo. Competimos com nós mesmos.

Feghali — São sanguessugas!

Serginho — Daqui a um tempo, a gente pretende correr atrás disso, ter nossas obras como nossa propriedade. A Marisa Monte fez isso. Em vez de um caminhão de dinheiro para renovar contrato com a gravadora, exigiu a obra dela. Agora, é dona do próprio catálogo e ninguém pode abusar dele. Nos faltou essa sabedoria.

— A obra do Roupa Nova é muito pautada pelo amor, embora também haja músicas de cunho social. Vocês são românticos de verdade?

Serginho — Me considero, sim. Se você vive isso, é natural que venha para o papel aquele sentimento na hora de compor. Quando faço uma balada, penso numa forma romântica de me entregar para uma pessoa. Não sou contra cantar os problemas do ser humano, mas nossa proposta desde o início sempre foi entreter o ouvinte, fazê-lo relaxar e se apaixonar.
Kiko — E quando a gente chega na rádio com uma canção diferente, as pessoas estranham. Dizem: “A música é ótima, mas não é o que a gente estava esperando do Roupa Nova para tocar”.

— Vocês sabem da força de seus sucessos mais antigos junto ao público.
 Eles se tornam um obstáculo para lançar novidades?

Feghali — Para você ver: o público já está pedindo um “RoupAcústico 3”.

Paulinho — E eles querem aquela quinta música do lado B do disco tal, que a gente nem lembra mais qualé.

Serginho — Quando a gente lançou o “RoupAcústico”, não batizou de “1” porque não pretendia lançar o “2”. Não é nossa intenção fazer a 18 versão para “Dona”, a 15 para “Volta pra mim”... Depois de 30 anos, você quer ousar. O último disco, gravado em Londres, era um sonho nosso. Fomos para lá e parimos 14 músicas inéditas. Não foi um fenômeno de mercado, mas fez bem ao grupo. Isso mostrou aos nossos fãs que estamos vivos, e não vivemos só de passado.

— O que vem por aí nesse DVD em comemoração aos 30 anos de carreira de vocês?

Feghali — Tenho certeza de que esse vai barrar o meio milhão de cópias vendidas do “RoupAcústico”. Está com versões ao vivo que as pessoas pediram muito. E tem Milton Nascimento cantando “Nos bailes da vida” com a gente, Sandy cantando “Chuva de prata”, Padre Fábio de Melo com “A paz” e os meninos da Fresno tocando “Show de rock ‘n’ roll”.

Serginho — Sem falsa modéstia, vi no semblante dos garotos da Fresno uma admiração. Quando o baixista parou na minha frente, ele me olhou de um jeito como que querendo dizer: “Será que a gente vai conseguir construir uma história de 30 anos como esses caras?”. Podemos até ser chamados de “titios”, mas servir de exemplo para alguém é motivo de orgulho.

Kiko — Me acabei de chorar nessa gravação. Voltar três décadas, lembrar a própria história, é muito emocionante.

— Qual é a primeira e mais forte lembrança que vocês têm desses 30 anos de trajetória?

Feghali — A gente cantando “Canção de verão” na Praia do Arpoador. Nosso primeiro show, chovendo, e 15 mil pessoas lá.

Kiko — Me vem à cabeça a gente sendo aplaudido por quase cinco minutos, num festival de MPB, em 1980. A música que a gente cantou não foi classificada, mas a euforia da plateia disse tudo.

Paulinho — Tudo me remete ao Milton (Nascimento), a gente cantando “Nos bailes da vida” com ele lá no início de tudo...

— Vocês estão celebrando 30 anos de um casamento em grupo.
Houve crise nesse relacionamento em algum momento?

Feghali — Existe um desgaste normal. Cada um conhece todos os defeitos do outro. Tem uma hora em que você fica: “Pô, que saco isso!”. Mas nosso objetivo é muito maior do que nosso orgulho.

Serginho — Há 16 anos, nessa sala aqui (ele aponta para o espaço do estúdio de gravações, dentro do escritório do grupo, na Barra), o Nando me fez uma pergunta: “E agora, irmão, você vai seguir qual caminho?”. Eu tinha acabado de me converter, me tornei evangélico. Respondi: “Vou seguir o caminho que Deus tocar no meu coração”. E nada mudou. Acho que, dentro do Roupa Nova, já abençoei muita gente por onde eu passei, com minha postura, com meu testemunho de vida. Somos seis homens com personalidades fortes. Então, tem horas em que é preciso ceder. A gente convive mais em sexteto do que em casa, com mulheres e filhos.

Kiko — De vez em quando, a gente faz terapia em grupo. Senta junto e solta tudo o que está incomodando. A gente não briga, nem discute assuntos pessoais. Geralmente, debate sobre o que é melhor para o grupo.

— Muitas músicas do Roupa Nova viraram sucesso por fazerem parte de trilhas sonoras de novelas. Vocês são noveleiros?

Paulinho — A teledramaturgia no Brasil pega mesmo pelo pé. Lá em casa, sou eu, minha mulher e meus dois filhos. Sou obrigado a assistir novelas, todas as TVs ficam ligadas ao mesmo tempo.

Feghali — A gente é recordista em trilhas de novela no Brasil. Tem novela em que emplacamos duas músicas: “Felicidade”, tinha “Felicidade” e “Começo, meio e fim”. Ajuda pra caramba a divulgar, é bom. Mas se a música for para um personagem que não cresce na trama, o artista queima um cartucho ali.

Kiko — Em “Renascer” aconteceu isso. A gente gravou “De volta ao começo”, que ia ser tema do personagem do Marcos Palmeira quando ele fosse para a cidade grande. Mas acabou que todo mundo ficaou no meio do mato e a nossa música foi pro brejo (risos). Aí estourou a Adriana Calcanhotto, com “Nada ficou no lugar...” (“Mentiras”).

— Das que deram certo, qual vocês acham que se encaixou mais perfeitamente no personagem?

Feghali — Com certeza absoluta, “Dona” (tema de Porcina em “Roque Santeiro”). Acho que todos vão concordar...

Kiko — “A viagem” foi forte, era tema de abertura da novela; “Coração pirata” também ficou bem conhecida por causa de “Rainha da Sucata”. Mas “Dona” deu muito resultado. Levou a gente para o exterior, nos rendeu prêmios. Fomos a Portugal, aos Estados Unidos... No Paraguai, não dava nem para comprar aqueles perfumes baratos. Vinha a galera toda atrás, cantando a música.

— E especificamente para o grupo, qual canção desses 30 anos de carreira marcou de maneira especial?

Feghali — “Sapato velho” é unânime.

Kiko — “Canção de verão” é muito forte.

Serginho — Ao longo de todo esse tempo, determinadas canções tocaram mais o coração de um determinado grupo de fãs. A gente foi absorvendo isso e vivendo cada experiência de maneira especial.

A vida e a obra

Citar os principais sucessos do Roupa Nova não é tarefa fácil. Selecionamos alguns, de nomes sugestivos, e fizemos uma brincadeira com o grupo, pedindo que comentassem o tema.

ROUPA NOVA

Serginho — Transpiro muito. Às vezes, tiro a camisa no camarim, torço e forma uma poça. Por isso, não dá para usar a mesma peça várias vezes. Estou sempre renovando o guarda-roupa.

Feghali — Já eu não transpiro nada, mas faço xixi toda hora... Se eu não estiver no palco e o Serginho for lá para a frente cantar, pode ter certeza de que estou no meu “momento banheiro”.

Kiko — E tem a questão de ficar repetindo roupa e sair na foto com o fã do Nordeste e do Sul igual. É chato, né? Cai na internet... Doo muita roupa. O sogro da minha filha adora, fica de olho!

Feghali — Meu caseiro adorou a minha calça de listras! Agora, vou começar a leiloar as roupas do Serginho para a mulherada e levar uma grana...

SAPATO VELHO

Paulinho — Uso muito tênis. Tenho uns sapatos guardados que não diria que são velhos, mas idosos. Ficam à espera de ocasiões especiais. Trouxe uns de Londres meio cadavéricos, e pesados!

Kiko — Sapato eu uso até o limite, até rasgar. Depois, jogo fora.

Feghali — Eu me livro deles quando enjoo, não espero nem furar.

ANJO

Serginho — Prefiro manter uma relação direta com Deus, sem intercessores.

Kiko — Uma vez comentaram comigo que existe um momento em que um anjo passa na sua vida e, se você não perceber, está arricado não ser bem-sucedido. Acho que nosso anjo foi o Mariozinho Rocha (produtor musical). Ele acreditou na gente e deu no que deu.

CHUVA DE PRATA

Kiko — Se não tivesse existido o Roupa Nova, acho que ainda estaria morando em Bonsucesso, levando uma vidinha mais ou menos. Adquiri muita coisa na vida com a parceria desses caras aqui.

Paulinho — Eu não posso reclamar de nada. Se não estou melhor financeiramente, é porque não fiz por onde. Parar de trabalhar agora, não posso.

Serginho — Administro muito mal o meu dinheiro, poderia estar numa situação melhor, mas não me arrependo.

Feghali — Este ano, vou correr atrás do meu segundo milhão de dólares, porque o primeiro eu não consegui alcançar (risos).


VOLTA PRA MIM

Kiko — A maioria de nós já fez esse pedido para alguma mulher que passou pela nossa vida...

A VIAGEM

Feghali — Eu adorei conhecer o Egito!

Paulinho — Gostei muito de Portugal.

Serginho — Enlouqueci quando conheci a Disney, em 1997. Parecia criança.


A LENDA

Kiko — Toda hora inventam uma mentira sobre a gente. Já me mataram uma vez!

Paulinho — É a maior mentira falarem que o cantor é boiola! (risos)


WHISKY A GO GO

Feghali — Só eu e Paulinho tomamos uísque. Kiko prefere cerveja. Serginho e Cleberson não bebem.


SHOW DE ROCK 'N' ROLL

Feghali — O melhor a que eu já assisti foi o do Paul McCartney.

Serginho — Eu também! Estava lá no do Maracanã, quando o estádio ainda comportava 185 mil pessoas. Foi alucinante!


BEM MAIOR

Kiko — Nosso maior patrimônio são os fãs. Não adianta ter talento e curtir tocar, se não tem ninguém para assistir. Só pai e mãe o tempo todo não dá! Se a gente chegou até aqui, muito se deve a eles.


COMEÇO, MEIO E FIM

Feghali — Nosso começo foi difícil pra caramba, cheio de incertezas. O meio, é só batalha. E o fim eu não consigo ver. Tudo está dando tão certo! E a gente tem um pacto: se, algum dia, um de nós se for, os outros vão ajudar a família desse cara. Tudo é dividido igualmente entre nós. Os lucros e os problemas. Somos uma grande família!

Com a bênção do padrinho Milton

— Qual é a lembrança mais remota que tem dos meninos do Roupa Nova?
 Como os conheceu?

— Um dia, um cara de Três Pontas, no sul de Minas, onde fui criado, me deu uma fita cassete e disse: “Ouve isso que é legal!”. Ninguém sabia quem eles eram. Depois de um tempo, aqui no Rio, passei em frente a uma loja de discos e ouvi o tal grupo tocando. Comprei o disco e descobri que eles se chamavam Roupa Nova, nome de uma música minha. Quando fui gravar “Nos bailes da vida”, uma espécie de homenagem aos músicos que tocavam na noite, os chamei. Nos tornamos grandes amigos.

— Se sente responsável, de alguma forma, pelo sucesso do grupo?

— O sucesso é todo deles. Desde que os conheci, eles se consideram apadrinhados por mim, e me sinto muito honrado. Eu adoro tudo o que fazem. São os maiores representantes daquilo que falamos na música “Nos bailes da vida”.

— Emocionou-se na gravação do DVD?

— Foi muito interessante. Fiquei muito feliz e emocionado, assim como todos os que estavam presentes no dia. Foi muito forte para mim, pois desde a primeira gravação nós nunca mais tínhamos cantado ao vivo juntos

FONTE\EXTRA

Um comentário:

  1. A MELHOR banda de musica popular de todos os tempos, sempre será ROUPA NOVA!!! AMO TODOS!!! PARABÉNS PELO TRABALHO MARAVILHOSO QUE REALIZAM E FELIZ 2013!!!

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