Louco para saber o que elas pensam
Solteiro, Rodrigo Santoro diz:
'O universo feminino me fascina'
No papel dele mesmo em ‘Afinal, o que querem as mulheres?’, Rodrigo Santoro se expõe, de forma irônica, como o famoso da imaginação de muitos: pegador, astro milionário, acima de tudo e de todos. ‘Seria insano se acreditasse nisso. Minha essência é outra’, afirma ele
Rodrigo Santoro fotografa em meio ao verde das árvores seculares do Parque Lage, na Zona Sul do Rio. Um turista se aproxima, meio ressabiado. Não reconhece o ator de imediato, mas pede para fazer uma foto com ele. Há algumas semanas, Rodrigo Santoro estava num bar, no Sul do país. Foi ao banheiro, como qualquer cidadão comum. Não sabia, mas estava sendo fotografado enquanto urinava. Cenas assim se repetem há anos na vida do ator, que ganhou fama e carreira internacional ao ser descoberto por Hollywood.
A imagem que se faz desse petropolitano de 35 anos, lindo e talentoso, costuma ser a mais diversa: metido, chatinho, blasé, pegador, milionário, difícil, cabeçoide... Para brincar com tudo isso — e, por que não, até confundir? — Santoro fará, a partir dessa quinta-feira, o papel dele mesmo em “Afinal, o que querem as mulheres?”. Um “ele mesmo” inventado, que aparece sendo assediado por todas as mulheres, desejando-as, sendo invejado e copiado. Um clichê ambulante do que muitos homens provavelmente gostariam de ser. Mas, afinal, quem é ele de verdade?
— Sou esse Rodrigo que está aqui sentado neste parque, que gosta de coisas simples, que tem os mesmos amigos, que é apaixonado pelo que faz. Sou um cara normal — garante.
Acostumado aos holofotes, Rodrigo mostra a face oculta pelos flashes e luzes. Brinca com sua condição de “astro do cinema”, “galã global” e “solteiro cobiçado”. Ao leitor, cabe conhecer o homem por trás do ator e decidir se gosta mais do que ele é ou do que parece ser.
— Qualquer projeto do diretor Luiz Fernando Carvalho é garantia de seu nome nos créditos?
— Quem dera! Mas não é assim. A gente conversa muito, bate bola, tem parcerias para o futuro. Normalmente, consigo conciliar um projeto dele, sim.
— Você diz muitos nãos?
— Sim, alguns. Não me permito fazer o que sinto que não devo.
— Já chegaram a oferecer um caminhão de grana e você deu aquela esnobada?
— Não me ofereceram um caminhão, mas um Fusquinha já (risos). Era para fazer algo em que não acreditava. Na época de “As panteras”, disseram que ganhei milhares de dólares. Cara, não teve isso. Se fizer os descontos, quase paguei para fazer. Aluguel de carro, de apartamento...
— Você prefere atuar em filme cabeça, com reflexões profundas?
— Não! Não tenho essa coisa de parecer alternativo. Adoraria fazer um herói. Um Homem- Aranha...
— Estão procurando um ator para substituir o Tobey Maguire...
— Jamais poderia fazer. Sou latino, e Peter Park é aquele americano, branquinho, olhos claros e tal. O que estou dizendo não tem a ver com estilo ou grana. Faço coisas de que tenha vontade. É claro que a grana é importante. Tenho que pagar minhas contas, essas viagens todas, mas não quero ter um helicóptero.
— O que mudou nesses sete anos de carreira internacional? Imagino que o cachê, não?
— Ih, isso não mudou, não...
— Ah, para... Você foi o Xerxes! (o imperador persa, em “300”)
— Ih, posso te falar? Para fazer Xerxes, minha remuneração foi absolutamente igual a que ganhei em “As panteras”. Xerxes foi difícil para caramba, me exigiu uma preparação longa e pesada. Deveria ter sido muito bem remunerado, mas não fui, tá? (risos). Nem eu nem Gerard Butler ficamos milionários com o filme. Não éramos famosões. Hoje ele até é. Mas, na época? Nada!
— Adiantaria perguntar quanto foi?
— Não!!!
— Em “Afinal, o que querem as mulheres?”, você interpreta a si mesmo. Mas também não é você. Isso é meio confuso, heim?!
— Não é, não. Quando Luiz me falou que estava escrevendo para mim, nem quis saber o que era, porque confio 1000% nele. Aí, cheguei de viagem e li, fiquei meio assim e disse: “Poxa, mas vou fazer eu mesmo?”. E ele me contou a ideia.
— E qual é?
— Faço o personagem Rodrigo Santoro, que é estereotipado, que de certa forma mostra essa falsa atmosfera que se concentra ao redor de mim, de fama, de inacessível... Não sou isso. Sou o cara que está aqui, no Parque Lage, que gosta dessa natureza, que é meio bicho do mato. Foi uma coisa arriscada fazer esse trabalho.
— Não deveria ser mais fácil?
— Você é que pensa! Estou me expondo, mas não estou fazendo comédia ou graça. O Rodrigo Santoro que as pessoas vão ver na série existe. Mas só na imaginação de algumas delas, entende? Há muita situação patética. Ri muito desse Rodrigo inventado. O humano é muito diferente.
— Mas você consegue andar livremente por aí, não?
— Consigo, mas o Rio tem fotógrafo em cada esquina. Não me exponho muito. Obviamente, não sou santo. Saio, bebo minha cerveja, danço, namoro. Mas não alimento isso. Essa é a diferença. Preciso manter a sanidade. Às vezes, acontece alguma coisa. Aconteceu outro dia. Estava no Sul, fui ao banheiro e um cara tirou uma foto minha fazendo xixi. O segurança do lugar é que pegou. Nem percebi! Fala sério! Tem coisa mais interessante para fazer, não? E um marmanjo, ainda por cima! Eu ali, concentrado no que tinha que fazer, e o cara fazendo foto. Quando saí, não entendi nada. Olhei para a cara do marmanjo, ele ficou de todas as cores, morrendo de vergonha, e apagou a foto. Não falei nada. Já tinha feito meu xixi.
— Não teve vontade de partir para cima?
— Não vou ser hipócrita e dizer que não me incomoda, que não me deixa com raiva. Sou um ser humano, com defeitos e qualidades e sangue italiano ainda por cima. Mas não desprendo essa energia. Se passar a minha vida pensando no que as pessoas vão falar, não vou fazer mais nada. Sou o Rodrigo de verdade. Passei agora uma semana na Saara, por causa do especial “Papai Noel existe”, que vai ao ar no fim do ano. Estava diferente e tal, mas não estava de máscara. As pessoas meio olhavam, mas ficavam naquela: é ou não é ele? Foi maravilhoso, porque pude observar.
— Você parece especialmente emocionado com esse trabalho...
— E fiquei, de verdade! Escolho meus trabalhos por instinto, sei lá, pelo que vai me acrescentar. Tive contato agora com uma realidade que jamais tive, aquela Saara lotada, com códigos próprios, com gente de uma classe muito mais baixa que faz o que pode para sobreviver. Me emocionei várias vezes.
— Você acha que perde trabalhos no Brasil porque os diretores pensam:
“Ah, o Santoro? Não vai querer...”?
— É bom deixar claro: isso não existe! Outro dia chegou um convite tardio para um filme e o cara me disse que o diretor tinha pensado em mim, mas não me chamou porque ficou com medo de que eu não aceitasse por ele ser iniciante. Não tenho isso. Acabei de fazer “Meu país” (de André Ristum, ainda sem data prevista para estrear), que era o primeiro filme do cara. Quando li o roteiro, pensei: estou afim de fazer isso. Foi um risco? Foi, mas é de mim isso.
— A carreira internacional foi um risco, não? Muita gente não acreditou em você, principalmente porque na primeira aparição era praticamente uma figuração sem fala...
— Não pauto minha vida no que falam de mim. Se fosse assim... Nunca, nunca mesmo, pensei em Hollywood como possibilidade. Estava bem aqui, tinha acabado de rodar três filmes (“Bicho de 7 cabeças”, “Abril despedaçado” e “Carandiru”). Não precisava de nada. Mas aí rolaram vários festivais pelo mundo, prêmios até a premiére do “Abril” em Los Angeles, e as coisas foram aparecendo. Quando vi, já estava lá.
— Teve uma hora em que você pensou: “Sou o cara!”?
— Nunca! Trabalho muito para não cair nessa armadilha. Faço ioga, surfe, esporte, meditação. Faço o máximo que posso para trabalhar o ego. Não sou o Dalai Lama, mas trabalho muito isso. O ego se alimenta de falsas verdades, né? E não acontece isso só com alguém famoso. Quanta gente por aí se acha o máximo e desrespeita as pessoas, destrata todo mundo? Isso independe da fama.
— No que mais você se arrisca?
— Me arrisco bem. Me jogo direitinho. Não sou insano. Mas uma vez, no Havaí, quase morri. Estava ali, com ondas gigantes, e pensei: “Vou nessa!”. Ali, sim, estava me achando! Morava lá há cinco meses por conta de “Lost”, e andava com os surfistas profissionais. Lá, o mar muda de uma hora para outra. Não era marinheiro de primeira viagem, e a galera disse que estava um pôr do sol bacana. Fui. Peguei a prancha e, quando dei por mim, estava em alto mar, com uma onda gigante vindo, mermão! Pedi pra Papai do Céu me salvar, prometi que seria bonzinho a vida inteira, que nunca mais faria aquilo de novo. Dei uma abusada.
— Você está com 35 anos e vejo que já apontam uns fios grisalhos aí... Envelhecer assusta?
— Tô me querendo, né? (risos). De jeito nenhum! Só preciso estar bem. Bebo muita água, faço esporte, minha alimentação é muito saudável, adoro verdura e fruta. Quando meto o pé na jaca, vou nos doces. Sorvete, chocolate, torta de limão, doce de figo... O importante é a saúde. Não vou dizer “nunca”, mas não acho que vá ser um coroa retocado, não. Penso em ficar como estes caras que estão aí e vão viver 150 anos, tipo Kadu Moliterno e Evandro Mesquita. Tudo é o espírito. E o meu é jovem.
— Na série, a grande busca é sobre o que as mulheres querem. Descobriu?
— Poxa, no dia que eu conseguir, escrevo um livro e fico rico! Mas gosto desse universo, tudo ligado ao feminino me fascina. Vocês são muito mais complexas, geram vida. Não podem ter com o mundo a mesma relação que nós homens temos. Sou fascinado por vocês.
— Você está solteiro?
— Sim, e bem!
— Sua mãe não cobra um neto?
— Já rolou, claro, de brincadeira. Mas meus pais me respeitam muito, sempre confiaram nas minhas escolhas. Na hora que tiver que acontecer, vai ser bacana. Não fico desesperado. O relógio biológico bate mesmo na mulher, sei disso. Mas estou aberto.
— E que tipo de mulher fisgaria você?
— Ah, não tem receita de bolo...
— Uma configuração básica?
— Quê isso? Isso parece até coisa de computador (risos). Sou à moda antiga, escrevo com papel e caneta! Prefiro ir pelo instinto. Às vezes, tem uma configuração com o processador rapidão, uma embalagem incrível, mas o bicho é lento e não fica legal... Tem que ser uma combinação do externo com o interno. Óbvio que tem que ter algo que me atraia, que tenha apelo pra mim, que seja belo, sexy, me desperte desejo. Mas isso num primeiro momento. Depois, quando está junto, milhões de outras coisas têm que funcionar. É uma alquimia, ou bate ou não. Essa configuração tem que me fazer feliz...
FONTE\EXTRA
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