sexta-feira, 5 de novembro de 2010

O bom vivant Lima Duarte
A vida, os casamentos e a relação com os filhos
Por Clarice Muniz
''Eu estou me sentindo no meu sítio. Vou acabar tirando um cochilo nesta rede!'' brincou o ator, fingindo, no Rio, estar no lugar que mais ama, no interior de São Paulo

Fazer 81 anos não é pra qualquer um. Ver o tempo passar e assimilar tudo menos ainda. Mas alguns encontram uma maneira criativa, como é o caso de Lima Duarte. ''A passagem do tempo é a coisa mais triste do momento. Ele é o meu grande inimigo, por isso o ignoro''.

Pronto, Lima Duarte deu um nó na vida. E além do grande truque de se manter ativo trabalhando incansavelmente e como uma criança, ele ainda tem um refúgio longe da civilização moderna, no interior de São Paulo, no sítio.

Amor? ''Não sou um grande amante. Eu tenho uma espécie de lata de lixo, que é a interpretação. Nela eu atiro tudo, os grandes e os pequenos sentimentos, o amor e o ódio. Então não fui eu que amei, foram os meus personagens. Mas os personagens são danados...'', brinca.

Em um papo, pequenas-grandes lições e mea-culpas, como o de achar que não foi um pai presente para os quatro filhos – algo que a filha, Mônica Martins Maluf, 57, em depoimento a CONTIGO!, ensina que não é bem assim, não.


Você diz que pensa em parar com novelas, mas está na sua 57ª. O que o motiva?

Penso nisso todas as noites, mas em todas as manhãs eu começo tudo de novo (risos). A pressão hoje é muito grande e, na minha idade, então, cansa mais ainda. Estou com 81 anos, trabalho há 66. Ignoro o tempo e desta forma consigo manter o mesmo entusiasmo da primeira novela.

Finjo que não se passaram 60 anos. Gosto de uma frase da diretora Ariane Mnouchkine, fundadora do Teatro de Soleil de Paris e contada pela minha amiga Eva Wilma: ''O ator é aquele que consegue conservar na idade adulta o maior coeficiente de infância. É muito bonito, porque é tudo uma criancice''.

Esse lado está mais aflorado agora?

Quando eu recupero essa criança que existe em mim, eu me sinto bem e feliz. Procuro manter esse coeficiente de infância mesmo que seja para sobrevir.

Você sente muita nostalgia?

Nossa, eu vivi e fiz tantas coisas. Nesses anos foram tantas experiências maravilhosas. Eu lamento que o tempo tenha passado, mas não me arrependo de absolutamente nada. Procurei vivê-los plenamente. Tenho me lembrado muito das coisas do interior, de quando eu era criança.

Até da época da guerra, quando eu tinha 9 anos, e a gente fazia ensaio de blecaute porque de repente os alemães podiam bombardear. Essa memória afetiva é a matéria-prima para o ator. Procuro manter isso vivo para compor meus personagens.

O seu astral muda quando está interpretando um vilão?

Volto para casa com a carga um pouco pesada e só penso em me livrar disso. São uns 30 milhões de expectadores por noite que começam a lhe odiar. Mas temos de estar preparados e suportar o peso. Há dias em que eu gravo 20 cenas e, quando chego em casa, custo a pegar no sono. Daí assisto TV e apago completamente (risos).
O que você assiste na TV?

Vejo os programas esportivos e jornais. Para mim, novela não tem mais graça, só vejo para saber como os amigos estão conduzindo seus personagens. Prefiro ler e ouvir música. Tenho curtido muito Edith Piaf, cantando Ne Me Quitte Pas, um clássico.

Adoro ouvir o Caetano Veloso cantando Cajuína. Ouço muitos clássicos do jazz, como Terri Lyne Carrington, Count Basie, Chet Baker. Isso me descansa.

Como é a sua rotina quando está no Rio?

Não circulo nunca, é só trabalho. Saio às 7h da manhã de casa (no Recreio dos Bandeirantes, zona oeste do Rio) e vou gravar. Quando volto, vou estudar meus textos. Eu me canso muito quando estou gravando novela, porque fico na ponte área.

Minha casa é um sítio, no interior de São Paulo, onde tenho minhas coisas, as minhas loucuras, os cachorros e as plantas. Os caseiros moram lá, converso com os caboclos que estão acostumados comigo. Enfim, o meu dia é cuidar da roça.

Tem algum cuidado com a alimentação?

Eu como o que pintar. No Projac, a gente não pode sair para almoçar, mas em compensação podemos pedir quantos pratos de comida quisermos. Não ligo muito para isso, não sou nenhum gourmet. De vez em quando gosto de comer um franguinho com quiabo, porque comia em casa. Afinal, comida de mãe é inesquecível. É com ela que a gente aprende a desenvolver o paladar, tem um gostinho especial.

Vinho eu bebo de vez em quando, mas não sou de bebidas. Aliás, não fumo, não cheiro cocaína, nada desses vícios terríveis. Já vi muitos colegas usando. Eu acho muita burrice jogar a vida a troco de uma euforia banal. Tenho desprezo por isso e acho triste. Nunca precisei disso. Tenho prazer em ler uma bela frase, de ouvir uma boa música. Minha posição sempre foi essa, não precisei ter esse tipo de conversa com meus pais.

Como é sua relação com seus filhos?

É muito difícil para os meus quatro filhos (Mônica, Débora Duarte, 60, Julia, 32, e Pedro, 35) ter um pai como eu, porque quando estavam fragilizados e precisavam conversar, eu não estava lá. Quando eram crianças, o pai era o Zeca Diabo (de O Bem-Amado, de 1973) ou outro personagem.

É muito complicado para nós, atores dedicados, sermos bons pais. O que eu ia justificar para eles? Tão jovens, não entenderiam nada. Eu tenho seis netos, mas não consigo ser presente por causa do trabalho e porque eu não sei como agir. Na verdade, estou muito velho para mudar.

Depois de cinco casamentos, desistiu da vida a dois?

Adoro ficar no meu canto e não sei mais viver com ninguém. Não tive nenhum desgosto, não foi amor traído, mas gosto de ficar sozinho com minhas coisas. Resumindo: eu me basto. É difícil conviver com as manias de outras pessoas. Já me acostumei em acordar e sair da cama para o lado que eu quiser, sem passar por cima de ninguém (risos).

Dessas relações, alguma foi mais marcante?

Tem um casamento que foi engraçado. Foi em 1962, em Helsinque, na Finlândia. Eu estive lá porque ganhei um prêmio do Estadão (jornal) e fui. Eu estava andando num lugar lindo, quando vi uma mulher loira, enorme e bonita, saindo da floresta.

Ela se aproximou e falou: ''Você está querendo fazer amor comigo?'' Então fomos para a cama, na casa dela (risos). Eu me fazendo de latin lover... até os filhos dela me viram pelado! Decidimos nos casar, mas com um período de experiência. Caso não desse certo, o casamento seria anulado.

Fiquei um mês com ela, cuidando das crianças enquanto ela trabalhava. Ela era bibliotecária, se chamava Ritva Yarvinin e tinha 28 anos. Um dia, ela me disse que iríamos para Estocolmo patinando, no inverno, porque toda aquela água virava gelo. Foi quando eu decidi que era hora de ir embora, aquele lugar não era para mim (risos).

Mônica Martins Maluf :
''Um homem que nunca se corrompeu'', diz a filha
Por Bianca Portugal

E se o pai morre na TV, ao vivo, o que se faz? ''Eu me lembro que uma vez eu fiquei acordada em casa, chorando, esperando meu pai chegar. Tudo porque ele fazia um papel na TV Tupi e morria no final da história.

Eu temi que ele tivesse morrido de verdade!'', conta Mônica Martins Maluf, advogada, filha de Lima. Seria uma das poucas vezes que ela confundiria realidade com ficção. Apesar do que acha o ator, a filha diz que não é difícil tê-lo como pai.

''É justamente o oposto. A minha admiração por ele vai muito além dos personagens. Um homem que sai do interior para a cidade grande e nunca, mas nunca mesmo, se corrompeu, é mais do que admirável. Esse é o grande legado que ele nos deixa.

Se não estava presente o tempo inteiro, estava sendo um exemplo de ser humano para nós'', completou Mônica, que também cuida dos contratos do pai. ''Trabalhar com ele é fácil. Porque ele é firme. Toma a decisão e cumpre.''

Foi com a mesma firmeza que Lima Duarte decidiu passar a maior parte do tempo livre em seu sítio, apoiado completamente pela filha: ''Ele fica tão feliz lá que só nos cabe ir visitá-lo sempre. Lá ele caminha bastante. Meu pai é um homem saudável, que se cuida.

O sítio é o hábitat natural dele e é um privilégio que merece desfrutar. Ele também é muito bem cuidado pelos caseiros, todos funcionários muito antigos e que gostam muito dele''.

FONTE\CONTIGO

Um comentário:

  1. Amo esse ícone da Dramaturgia Brasileira! Não assisto mais tv e novelas há anos... Minhas tvs eu tenho apenas Netflix e Youtube e pelo Youtube estou assistindo pela enésima vez ao Bem-Amado e rio mto com "Zeca Diabo"! Sou Loura, ms não sou a filndesa... Quer casar comigo?! Fui mto amiga de seu colega, o tbm grande ator Castro Gonzaga! Bjs Lima, com gosto de lima doce🍋💋💖💝🎭

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