Moda
Pedro Lourenço:
“Quero ver mais gente bem vestida”
Por Glauco Sabino
Há três estações, Pedro Lourenço lança suas coleções na Semana de Moda de Paris, onde é o único brasileiro a integrar o calendário oficial de prêt-à-porter da capital francesa. Na última temporada, realizada em março, Pedro apresentou peças mais comerciais em relação às edições anteriores – ou "usáveis", como ele mesmo explica nesta entrevista ao site Marie Claire.
Aos 22 anos, o estilista é considerado um “jovem muito promissor” por veículos importantes, como o site americano Style.com, e é acompanhado de perto pela respeitada Suzy Menkes, editora do “International Herald Tribune”. A expert é cadeira cativa em suas apresentações.
Orgulho nacional da moda, ele afirma que seu design é global, sem regionalismos. Mas isso não o impede de querer criar para o público brasileiro de maneira mais acessível. O resultado desse desejo poderá ser visto em breve, assim que chegar às lojas sua primeira coleção fast-fashion para a marca Riachuelo. Pedro não comenta muito o assunto, mas sinaliza:
“Meu interesse é ver mais gente bem vestida”.
Havia certa cobrança da imprensa por peças mais comerciais nos seus desfiles em Paris. E, realmente, nessa terceira coleção parece que você veio com essa preocupação. É isso mesmo?
Pedro Lourenço: A proposta dos dois primeiros desfiles era reforçar a imagem e o conceito da marca Pedro Lourenço de uma maneira quase obsessiva. Acredito que a palavra comercial não se aplica a um desfile de moda hoje em dia. Mas a palavra usabilidade sim. Nessa coleção quis mostrar pontos de vista da marca de uma maneira mais “easy”, ainda que com a mesma força em termos de imagem.
Você pretende seguir o caminho traçado por Alexandre Herchcovitch e Ronaldo Fraga, associando seu nome a outros produtos não ligados à moda?
Sim, mas desde que seja com marcas com as quais eu tenha sinergia e com produtos em que eu realmente acredite.
Sendo um estilista brasileiro, mas morando fora e criando para apresentar primeiro em uma semana de moda parisiense, como você enxerga os regionalismos na moda? Isso existe?
Acredito que a moda hoje seja global. Existem referências que estão inconscientes na expressão de um estilista e elas vêm da vivência pessoal, da cultura nativa. Essas referências podem estar presentes na criação, mas não vejo a necessidade de que isso ocorra sempre. Pelo menos não é com isso que me preocupo na marca. A moda procura estilistas com ponto de vista mundial e que possam trazer produtos que geram desejo no mundo todo.
A que você credita essa forte onda de redes de fast-fashion se aliando a já renomados estilistas?
Essas redes já trabalham sob estruturas e processos eficientes e carregam um know-how indiscutível. O que elas querem, na minha opinião, é aliar design aos seus produtos. Já do meu ponto de vista, de estilista, o interesse é ver mais gente bem vestida. Mas do que tendências das araras, é bom ver o consumidor com a vontade de um estilista, interessado num nome, num ponto de vista forte, com estilo e opinião bem definidos.
Você pretende abrir loja no Brasil?
Divulgarei novidades quando for o momento. Hoje vendo na Daslu, em São Paulo, para quem inclusive criei uma coleção exclusiva, na Dona Coisa, no Rio de Janeiro, na Fizzy em Campinas, e na Comercial, em João Pessoa. Já no mundo temos pontos de venda nos Estados Unidos, Reino Unido, Itália, China e na internet, no site WatchThatLabel.com, que será lançado no próximo mês.
Quem são os novos estilistas que despontam no Brasil, na sua opinião?
Acho o Lucas Nascimento muito talentoso e com grande potencial de conquistar seu lugar na moda mundial. Além da excelente técnica que ele tem ao trabalhar com tricô, uma matéria-prima nada fácil, a gente percebe que ele tem um certo nível cultural e referencial. Há pesquisa por trás do trabalho dele, um exercício de pensamento.
O que é atual na moda?
Acho difícil definir. Crio pensando numa moda atemporal e minhas referências são também de criadores que pensaram além do momento. O desejo do estilista é sempre estar mudando. Apesar de ter proposto calças e comprimentos médios na última coleção, o atual mesmo na moda é o estilo próprio, é aquela pessoa que sabe colocar seu ponto de vista acima de modismos. Eu sou contra as tendências.
FONTE\MARIECLAIRE
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