Matheus Nachtergaele se prepara para estrear
como Joãosinho Trinta no cinema
Por Lucas Moretti
O Joãosinho Trinta dos cinemas não aguenta mais o Carnaval da Sapucaí. Depois de filmar o longa ‘Trinta’, do diretor Paulo Machline, sobre a vida do carnavalesco, Matheus Nachtergaele sente falta da genialidade do artista quando assiste aos desfiles na Avenida.
“Eu gosto de Carnaval, de ir na pipoca em Salvador — não vou mais por causa da fama. O de rua, no Rio, está ficando gostoso.
Mas o da Sapucaí, como manifestação cultural, morreu pra mim. Não tenho mais vontade de ir.
É chato aquele Carnaval. Já fui muito, é bonito, mas é vazio. Você vai lá e vê um desfile que é idêntico ao do ano anterior.
Não tem mais aquela espera: ‘Porra, agora é a escola do João’”, reclama Matheus, em entrevista no festival Cine Ceará.
O longa narra o primeiro Carnaval de Joãosinho, em 1974, pelo Salgueiro (‘O Rei de França na Ilha da Assombração’) e, com flashbacks, mostra da infância até sua formação como carnavalesco.
O filme já foi todo gravado, mas só entra em cartaz em fevereiro. Paola Oliveira, Marco Ricca e Fabrício Boliveira também estão no elenco.
Para conhecer os detalhes de perto, Matheus teve a sorte de conversar com Trinta.
Nachtergaele refaz gesto de Joãosinho ao lado do diretor do filme
“Ele era um homem muito culto, um grande artista, um dos maiores do Brasil. É o maior cara, da maior manifestação cultural do País.
Em três horas, ele tentou me mostrar o amor que tinha pela vida”, lembra Matheus, que considera o trabalho uma homenagem ao carnavalesco, que morreu em dezembro do ano passado.
Enquanto o filme não entra em circuito, o ator colhe frutos da elogiada atuação no longa ‘Febre do Rato’, que também traz os atores Nanda Costa e Irandhir Santos.
Matheus é o coveiro Pazinho, casado com um travesti e sempre em pé de guerra.
“Eles têm uma questão sobre machismo num casamento gay. Mesmo casado com travesti, ele acha que pode ter relações extraconjugais e que a Vanessa (Tânia Moreno) não pode. É discussão de alto nível.
Ela diz: ‘Eu também quero, sou homem, pô’”, diverte-se o ator.
Matheus não precisou de laboratório para o personagem. “Já conheci tantos travestis na vida... Ele está entre nós. Ele é, e ponto.
É algo duro, terrível, de certa maneira: é uma negação de um sexo”, teoriza. Ele só reclama de ter ficado de fora das cenas mais quentes. “Quero muita orgia no próximo filme, hein”, brinca.
Esse é o terceiro trabalho do ator com o polêmico diretor Cláudio Assis. A parceria deu tão certo que Matheus ainda se emociona com o Everardo de ‘Baixio das Bestas’ (2006).
“Até hoje me perturba, o personagem era muito drogado.
Filmei muitas vezes bêbado mesmo. É muita exposição. Quando vi o filme, havia cenas que não lembrava ter feito”, conta.
“Dei uma garrafa de uísque para ele e disse: ‘Quando estiver na metade, começamos a gravar’”, revela Assis.
Nachtergaele na TV
Mais dedicado ao cinema e ao teatro, Matheus Nachtergaele relutou em aceitar seu primeiro papel em uma novela.
Hoje, ele não se arrepende, mas reclama da superficialidade de vários folhetins. “É uma situação complicada com que eu lido.
Tem novelas que, para mim, são inassistíveis. Fiz muita minissérie e já disse que nunca faria novela.
Com o tempo, percebi que esse é o maior palco de um ator brasileiro. É quase uma negociação da radicalidade do seu discurso com o poder de comunicação que você vai ter”, explica Matheus.
“Sei que a grande maioria das pessoas não vai ao teatro, nunca foi e nunca vai ao cinema. É ali que posso dar algo que tenha subjetividade e poesia.
Claro que com os instrumentos que a TV aberta pode me oferecer”, emenda. Quem convenceu o ator a largar o preconceito foi o autor de ‘Avenida Brasil’, João Emanuel Carneiro.
“Ele foi roteirista de vários filmes, somos amigos. Foi ele que me convenceu a fazer a minha primeira novela, ‘A Cor do Pecado’.
Eu adorei. Uma trama do João, faria com maior prazer”, conta ele, que é fã do atual folhetim do amigo.
“Quando fazia as cenas diurnas, em ‘Trinta’, de 5h às 17h, eu via a novela do João todo dia. Era uma maneira de me distrair em casa”, emenda o ator.
“Quando fazia as cenas diurnas, em ‘Trinta’, de 5h às 17h, eu via a novela do João todo dia. Era uma maneira de me distrair em casa”, emenda o ator.
Por passar longe do padrão de galã, que arranca gritinhos estridentes das adolescentes, Matheus dificilmente se incomoda com as abordagens dos fãs.
“Sinto que as pessoas não têm uma reação histérica comigo. São carinhosas e respeitosas. Quando sou abordado, a maioria vem falar do meu trabalho, de algum detalhe do meu personagem.
Não é uma coisa excessiva, querendo autógrafos, essas coisas”, garante o ator.
Longe da TV desde que fez Miguezim em ‘Cordel Encantado’, Matheus vai voltar com a minissérie ‘As Mil e Uma Noites’, de Thelma Guedes e Duca Rachid, mesmos autores de ‘Cordel’, ainda sem previsão de estreia.
FONTE\ODIA
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