EDSON CELULARI FALA SOBRE SUPERAÇÃO DO CÂNCER:
"INVERTI UMA FILA DE PRIORIDADES NA VIDA"
Na pele do carismático Dom Sabino de 'O Tempo Não Para', ator fala sobre sucesso da novela e desafios do personagem
Por Beatriz Bourroul
Edson Celulari conquistou o público na pele de Dom Sabino de O Tempo Não Para, atual novela das 7.
Aos 60 anos, o ator celebra o sucesso do personagem que caiu no gosto popular com suas observações e espantos curiosos em sequências da trama.
"Sei que é cair na palavra comum dizer que é 'um presente', mas realmente é mesmo. É uma personagem de grande responsabilidade dentro da trama", afirma Celulari para QUEM.
A chance de fazer o personagem veio após uma breve passagem por Malhação - Vidas Brasileiras (2018), em que interpretou o político corrupto Eduardo Mantovani, e A Força do Querer (2017), quando viveu o executivo Dantas.
O ator, que enfrentou a luta contra um linfoma não-Hodgkin, um tipo de câncer que tem origem no sistema linfático, em 2016, o ator acredita ter saído mais forte após a doença.
"Tive a oportunidade de viver da melhor forma tudo aquilo. Fui muito acarinhado. Tudo correu bem. O que eu vejo é aproveitei o tempo que tive para priorizar o que é importante de verdade e inverti uma certa fila de prioridades na vida."
O Tempo Não Para tem sido bastante elogiada e Dom Sabino é bastante querido nas redes sociais. A que atribui esse sucesso do personagem?
A novela tem uma história muito boa ao colocar nos dias de hoje uma família vinda do século 19. Dom Sabino é conservador, mas, ao mesmo tempo, é progressista e, principalmente, humanista. Ele nunca maltratou seu escravos, mas tinha escravos porque era o que se tinha na época. Ele criou uma filha moderna, independente. Ao mesmo tempo, a mulher é extremamente severa, mais carola. Ao despertar e ver a Avenida Paulista, é emocionante ver a reação daquele homem. Ele apostava na telefonia, no progresso das ferrovias e rodovias. É emocionante ver a reação dele com a luz elétrica, o tamanho dos prédios... Ele chama as motos os carros de carruagens motorizadas e vai batizando o que encontra... Cavalos motorizados, aves motorizadas. Ele se encanta com o progresso.
Mas nem tudo é positivo.
Sim. Ao mesmo tempo, ele se depara muitas vezes com o humano pior, que não confia na palavra, um político ruim... Um brasileiro com cargo público tão preguiçoso, tão malandro quanto o da época dele. Ele vai constatando questões sob um ponto de vista interessante. Estou me divertido com esse papel.
Como definiria este viés? Considera cômico?
Cômico-realista. Não é farsesco. Se a gente fosse pro farsesco, o valor diminuiria. O bacana que eles são de verdade. Há situações de non-sense. Ele chega para o taxista e diz: ‘Condutor, vamos para a Freguesia do Ó, ao Largo da Matriz, onde foi enforcado o bandido Unha de Cobra’. Ele fala isso porque é a referência dele. Essa é a referência dele e é engraçado para quem escuta, mas ele não fala de forma engraçada, farsesca. Para o público soa engraçado, mas para ele não. Viver o Sabino é maravilhoso, um presente. Sei que é cair na palavra comum dizer que é “um presente”, mas realmente é mesmo. É uma personagem de grande responsabilidade dentro da trama. Quanto mais divertido for para nós, do elenco e equipe, realizarmos essa história, melhor será o resultado para o público e para o conteúdo deste produto. Acho que estamos no caminho certo. Contamos essa história de uma forma verdadeira.
Antes de O Tempo Não Para, você tinha participado da atual temporada de Malhação. Gostou da experiência na trama teen?
Fiz uma participação. Era um político corrupto. Estou versátil (risos). Essa atual Malhação [Vidas Brasileiras] está indo bem. Tem um ponto de vista interessante porque a situação que estava inserido não era em cima do meu personagem, um político preso na Lava-Jato. O ponto de vista recaiu em cima da família – a filha, a esposa e a funcionária.
Você tem uma trajetória com mais de 30 anos de carreira. Quais os principais desafios que encontra em um trabalho como O Tempo Não Para?
Uma dificuldade que tenho ao interpretar o Sabino é que não dá para improvisar. É difícil improvisar. Ele só fala “para”, não fala “pra”. No meio de uma gravação de novela, com tanto texto, já acabei deixando escapar um “pra” e tive que voltar. O diretor falou: “Edson, você falou ‘pra’!”. Não acreditei! Estou me policiando. É para, para, para. O mais difícil é não levar Sabino para a vida. Se eu começar a falar “para” o tempo todo vou virar um senhor do século 19. Tudo bem que eu já sou um senhor, mas não do século 19 (risos). Sou um senhor do século 21. A questão da prosódia é uma dificuldade real.
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Quando recebeu o convite para O Tempo Não Para, foi fácil embarcar na proposta diferenciada da trama?
A gente quando lê uma ficção, vem aquela ideia de “once upon a time...”, “a long time a go...”. Tem que começar a ler e acreditar. É como se você, hoje, fosse parar no século 23. Para você, como será o século 23? O George Orwell previu para 1984 uma sociedade muito mais adiantada do que aquela que chegamos em 1984, enfim... É a capacidade de imaginação. Para esta novela, o Mário [Teixeira, autor] em vez de prever o que acontecerá, retrocedeu a família, colocou a família no passado e a novela mostra o que era para os dias atuais. Ele vai se encantar pela mulher moderna. Ele casou com uma mulher que só tinha visto uma vez antes do casamento e pela gelosia de uma janela. Gelosia é uma fresta. Tem termos muito engraçados. Eu nunca peguei tanto dicionário na minha vida como nesta novela. É bacana. Se eu falo “gelosia” como se fosse uma palavra estranha para mim, o público não vai entender, não vai encaixar com naturalidade. Está divertido fazer este personagem.
Com o que se diverte mais?
No conflito e nas descobertas, meu personagem vai se assustar, vai aprender, vai recusar, aproveitar... Ele adora essa ideia de apertar e sair um café. Ele celebra: “Saiu um café preto e forte como me apetece”. O progresso o fascina. Ele gosta de girar uma chave e ligar o carro, diferentemente dos tempos em que tinha que dar feno ao cavalo para que a carruagem fosse puxada. E fico encantado com o valor da palavra. Ele será vítima da algumas situações em que se instala de maneira ingênua. Dom Sabino é íntegro e as situações de moldam de maneira equilibrada para que ele sirva de um bom exemplo.
Você havia ficado um tempo afastado do trabalho para cuidar da saúde, mas de um tempo pra cá tem feito vários trabalhos. A Força do Querer, Malhação, O Tempo Não Para... Sinal de que a saúde vai muito bem, certo?
Estou ótimo. Tudo resolvido. Tive a oportunidade de viver da melhor forma tudo aquilo. Fui muito acarinhado. Tudo correu bem. O que eu vejo é aproveitei o tempo que tive para priorizar o que é importante de verdade e inverti uma certa fila de prioridades na vida. Acho que saí melhor. Claro que é uma experiência amedrontadora, uma sensação de finitude, mas saí mais forte.
FONTE\QUEM
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