Pelé fala sobre família, carreira e sexo em entrevista
Ele fala sobre sua vida hoje:
sexo, ser avô, ser ídolo, os segredos da boa forma, os planos
para comemorar o centenário e revela que tem ''amigas'' em todo mundo
Por Ana Carolina Soares
''Não me considero rei''
É um rei que gosta de pescar em sua fazenda no interior de São Paulo, comer churrasquinho com os amigos e brincar com os seis netos. ''Gosto das coisas simples da vida'', diz Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, que, aos 70 anos de idade, detém o título de maior atleta do mundo. Não é porque tem hábitos comuns que o Rei desconhece o seu valor.
Os olhos do ídolo brilham quando ele diz que não é ''um dos'' rostos mais conhecidos do planeta, mas ''o'' rosto. E, como tal, tem status de chefe de Estado. Como embaixador do futebol, Pelé foi convidado à posse de Barack Obama, 49, em janeiro de 2009. Não pôde ir à festa por causa de compromissos com sua marca, uma das que mais faturam no mundo em publicidade, aproximadamente 18 milhões de dólares por ano.
Pelé é também um dos raros seres humanos na história que conseguiu entrar legalmente nos Estados Unidos sem documentos. ''Voltava de um jogo no Japão com o Cosmos (time americano que atuou no fim dos anos 70) e dava autógrafo no aeroporto usando o passaporte para apoiar os papéis. Na pressa de não perder o voo, entreguei o meu passaporte ao fã (risos). Cheguei a Nova York e 'cadê o passaporte?''', lembra rindo.
Em suas andanças pelo mundo, o Atleta do Século aterrissou em um hotel em Guarulhos, na Grande São Paulo, na tarde da quarta-feira (24). Foi participar de um encontro com gestores da Rede de Ensino Desportivo. ''Deus me deu o dom de jogar bola e fiz dessa minha profissão, mas nunca abandonei os estudos'', diz. O primeiro compromisso daquela tarde foi conceder uma entrevista exclusiva a CONTIGO!.
Aos 70 anos, o senhor parece...
(Interrompe) Pode me chamar de você. Prefiro que todos me chamem de ''você''. Geralmente, quando homens me chamam de ''senhor'', eu brinco: ''senhor é o pai dos seus filhos'' (risos).
Aos 70 anos, você é uma referência de saúde e bem-estar. Como se cuida?
Sempre tive isso como pauta, em toda a minha vida. No início da minha juventude, servi o Exército. Poucos sabem, mas eu me formei em educação física e sou professor. Na época em que jogava no Santos, viajava pela África, Ásia, Europa e aprendi a comer de tudo. É claro que, como éramos esportistas, havia um menu especial, saudável. Meu pai me ensinou isso. Aliás, meu pai, Dondinho (jogador de futebol falecido em 1996, aos 79 anos), foi um grande esportista. O único recorde que Pelé não quebrou foi do próprio pai. Ele fez cinco gols de cabeça em uma só partida (risos)!
Mas e hoje? Como se cuida? Dorme oito horas por dia?
Quando eu era atleta, dormia até dez horas, ia para a cama cedo por causa do desgaste físico. Hoje, não tenho o desgaste físico de antigamente. Então, durmo cinco ou seis horas por noite.
E como é a sua alimentação? Qual o seu prato preferido?
É o cheio (risos).
Seus amigos dizem o contrário, que você come pouco.
Na verdade, procuro me alimentar muito bem. Moro em Santos, então como muito peixe e frutos do mar. Sou louco por um churrasquinho (risos). Gosto de comida árabe e adoro sushi. Pelo menos uma vez por semana, vou com meus amigos a um restaurante japonês. Também gosto muito de frutas, verduras, legumes. Não me privo de frituras, de nada. Como de tudo, mas sou comedido.
Você disse que a educação o ajudou a ser rei. Como é a sua vida hoje de rei?
Não me considero rei. Ser rei é receber o dom divino e entender isso como coisa normal. Porque Deus é quem dá o dom. Passei a receber o tratamento de rei do futebol porque Deus me deu o dom de jogar futebol e cuidei disso. Sempre respeitei o próximo, paguei meu imposto de renda. Rei tem castelo, eu não.
Mas o mundo conhece seu rosto. É verdade que você não precisa de passaporte para viajar?
Tenho o passaporte diplomático, o vermelho, mas uso o normal. Muita gente diz que é disfarce, mas não é. Quando você usa o passaporte diplomático, tem de informar à embaixada, tem de andar com seguranças, então é uma burocracia muito demorada. Usar o passaporte normal é muito mais rápido, sabe? Não tem todo esse aparato.
Os policiais o reconhecem?
Claro. Pelé não é uma das caras mais conhecidas do mundo. Pelé é ''a'' cara mais conhecida do mundo. Isso já foi comprovado. Teve até uma controvérsia muito grande no Japão. Recentemente, estive em uma conferência de imprensa lá e um repórter japonês falou: ''Pelé, como você se sente sendo mais conhecido do que Jesus Cristo?'' Respondi: ''Não sei, não posso responder isso, porque, para nós, brasileiros, Jesus é o máximo''. Então, ele falou: ''Aqui, nosso guia é o Buda, a maioria dos nossos garotos não conhece Jesus. E todos os garotos da Ásia e da África, que têm maioria muçulmana, conhecem o Pelé''.
Como é a vida de alguém tão conhecido? Dá para ir a bares...
Não gosto de bares, prefiro restaurantes. Quando estou em São Paulo e em Nova York, vou a alguns lugares. Também vou a festas, casamentos...
Quais são seus prazeres?
Tenho um sítio em Juquiá (no sul de São Paulo, a 161 quilômetros da capital) e gosto muito de pescar. E fico lá, pescando, passando meu tempo. Acostumei com as coisas simples da vida. Não tem esse negócio de ser rei, de ficar ostentando, não fui criado assim. Também gosto muito de brincar com meus seis netos.
Como é o avô Pelé. Você joga futebol com eles? Cobra boletins?
Acompanho a vida escolar deles. Meu pai só me deixava jogar bola no campinho depois de estudar. Mas ele podia marcar a gente de perto, porque tinha só nós três: eu, Maria Lúcia (63, ex-jogadora de basquete) e Zoca (67, ex-jogador de futebol). Minha situação é mais difícil, porque tenho seis netos (risos). Os filhos da Kelly (Cristina, 42, atriz) moram em Nova York. Edinho tem duas meninas e não jogam futebol. Flávia (Kurtz, 40, fisioterapeuta) tem o Arthur (4 anos) e, com ele, bato uma bolinha. Ou então, estou sempre no pingue-pongue com meus netos (risos).
Você está separado há dois anos. Não é possível que esteja sozinho, que não tenha uma namorada ou se apaixonado durante todo esse tempo!
Se eu estivesse apaixonado, já teria me casado. A não ser que a paixão não aceitasse (risos).
Nenhuma namorada nesses últimos dois anos?
Não... Como você sabe, tive primeiro um casamento sério, com a Rose (Cholbi, 64). Depois, entre a Rose e a Assíria, fiquei quase seis anos com a Xuxa (47, apresentadora). Foi um relacionamento muito conhecido. Não chegamos a casar, a morar junto, nada. Era uma coisa bem legal. Como ela dizia, era uma amizade colorida (risos). Então, eu me casei com a Assíria e ficamos 12 anos juntos.
E atualmente? Não namora ninguém?
Não, nunca me preocupei em sair atrás de namorada. Tenho uma infinidade de amigas em toda parte do mundo, mas nada sério para casamento.
Por quê?
Acho que tenho de dar um tempo ainda. Tem o Joshua e a Celeste (13 anos), que são os gêmeos, a Gemima (19), filha do primeiro casamento da Assíria que veio morar conosco ainda com poucos meses de idade. Ontem, ela entrou na faculdade, acredita? Está estudando em Orlando. Passei uns dias lá para vê-la.
Hoje, você tem uma decisão na linha ''eu não me casarei novamente''?
Não pensei nisso ainda. Quando você encontra alguém, apaixona e gosta, aí acontece naturalmente. Eu estou aberto. Sempre tranqüilo.
Um dos cursos da rede é psicologia do esporte. E tem sempre aquela polêmica do sexo antes de uma partida de futebol. Qual sua posição a respeito?
Acho que depende do biótipo de cada um. Eu, particularmente, procurava descansar antes dos jogos. Sexo é importante, mas, como tudo na vida, o que é em excesso faz mal. O que é moderado, não faz mal. E o sexo, para atleta, é a mesma coisa. A grande coisa da minha carreira, nos 21 anos de futebol, é que eu sempre estive bem, preparado fisicamente. Só ficava fora do jogo do Santos ou da seleção brasileira quando estava machucado. Por falta de condições técnicas, nunca! Isso que é importante.
Atualmente, qual a importância desse tema em sua vida?
É grande. Acho que a grande base do Pelé foi seu condicionamento físico ao longo dos 21 anos de carreira. Porque o dom foi um presente de Deus, mas tive de me esforçar para cuidar dele.
Na verdade, perguntei qual a importância do sexo atualmente...
Você, quando vai ficando mais adulto e experiente, começa a ter mais exigência, a ser mais exigente. A única diferença é essa. Mas não mudou nada para mim (risos).
Para finalizar, como será o aniversário de 100 anos?
Quero jogar no Maracanã, nem que seja por alguns minutos. Até fiz uma brincadeira com o Oscar Niemeyer recentemente. Ele fez o Museu Pelé. Niemeyer é um grande homem, mundialmente conhecido, a gente se orgulha de ele ser brasileiro. Brinquei com ele:''Pena que você talvez não esteja no meu jogo de 100 anos, fisicamente'' (risos). Afinal, ele está com 102 anos. E ele respondeu: ''Cuidado que posso estar e ainda driblar você'' (risos).
E o sucessor de Pelé? Vislumbra algum?
O Santos está crescendo. Tem o Neymar... O Brasil sempre teve excelentes jogadores, como o Zico, o Romário também foi um excelente artilheiro. Mas são projetos. Só pode comparar depois que alguém fizer a mesma coisa. É difícil falar ''o sucessor de Pelé''. É a mesma coisa de você falar ser sucessor de Beethoven ou sucessor do Einstein, é difícil ter outros jogadores assim...
Por uma boa educação
Pelé não falou quando completou 70 anos, em outubro. Mas para promover a Rede de Ensino Desportivo - instituição voltada para profissionais do mercado esportivo – o Rei concedeu uma rara entrevista. Para ele, educação é algo que precisa ser promovido. Augusto Anzelotti, 55, diretor da Rede, celebra a parceria. ''Além de ser o Atleta do Século, Pelé tem uma visão diferenciada'', diz. E o jogador mais famoso do mundo ressalta: ''A formação me ajudou como profissional''. A instituição oferece 19 cursos de pós-graduação, extensão universitária e livres focados no mercado esportivo.
FONTE\CONTIGO
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