Manoel Carlos:
'Tenho orgulho do meu passado na TV'
Por Regina Rito
Manoel Carlos, 73 anos, começou a carreira como ator na TV Tupi, produziu e dirigiu programas na Record no fim dos anos 60 — ‘Esta Noite se Improvisa’, ‘O Fino da Bossa’ (com Elis Regina) — e a primeira fase do ‘Fantástico’, da Globo, entre 1973 e 1976. Depois, optou por escrever novelas — todas de grande sucesso. Suas histórias abordam conflitos da classe média carioca, levantam questões sociais, têm como pano de fundo o Leblon, bairro da Zona Sul, onde mora, e, em quase todas, a protagonista se chama Helena. Hoje, em comemoração aos 60 anos da TV brasileira, Maneco, como é chamado pelos amigos, fala de sua experiência.
O que de mais significativo aconteceu nesses 60 anos da TV?
“Sem dúvida o jornalismo foi a grande estrela. Foram tantas as reportagens nacionais e internacionais, que seria até monótono mencionar. Claro que a chegada do homem à Lua, a guerra do Vietnã, o assassinato de Kennedy e os grandes eventos ao vivo foram as vedetes desses 60 anos, mas também na ficção, na teledramaturgia, a TV deu grandes saltos. Hoje o mundo seria impensável sem a televisão, sem o que ela nos dá em divertimento e, principalmente, em informação. E após 60 anos, ainda podemos afirmar que a TV está só começando. Há muita coisa vindo por aí”.
Na TV o que mais te marcou?
“Comecei muito cedo, quando a TV tinha menos de um ano de vida. Então o que mais me marcou, modéstia à parte, foi eu mesmo, como ator, fazendo o papel principal na peça ‘O Urso’, de Tchecov, num grupo de idealistas, jovens do teatro amador paulistano, sob direção de Antunes Filho, na TV Tupi de São Paulo. Era o começo de tudo e fazíamos os textos clássicos com a desenvoltura de quem tem 18 anos. Isso para mim é inesquecível”.
Além de ditar comportamento, as novelas abordam questões sociais. Qual a importância disso?
“Na TV tudo é importantíssimo e ao mesmo tempo, efêmero. É uma questão de saber o que vale e o que não vale a pena. As questões sociais são eternas e devem ser mantidas e incentivadas, ainda que a gente saiba que elas se transformam. A novela é a grande alavanca desses benefícios sociais, porque elas atingem um grande contingente de pessoas das mais diversas camadas sociais. Uma novela sem mensagem social pode ser vista como um desperdício de oportunidade”.
Que outro tipo de questões as novelas deveriam abordar?
“Todas que estejam adequadas ao público a que se dirigem. Não vai salvar o mundo, mas será suficiente dar a mão, lançar uma âncora à uma questão social, para que as novelas já valham a pena”.
O que é mais desafiador: escrever uma história cativante ou manter uma novela mais tempo no ar?
“A novela cativante eu posso fazer ou não fazer. O sucesso ou o fracasso dependem de mim, mais do que de tudo. Mas uma novela mais tempo no ar depende única e exclusivamente da emissora, da empresa em que eu trabalho. Eu não posso interferir nisso, porque, se pudesse, as novelas teriam 120 capítulos”.
Quem mais admira na TV?
“Prefiro citar alguns nomes que foram importantes para mim, na TV, independentemente da atividade que exerciam: Walter George Durst, Cassiano Gabus Mendes, Álvaro Moyá, Silas Roberg, Roberto Palmari, Sérgio Britto, Lima Duarte, Bráulio Pedroso. São muitos a citar. Fico com esses, como exemplos”.
Qual das suas novelas acha que poderia ter feito melhor?
“Todas”.
Hoje é mais difícil escalar o elenco?
“É mais difícil porque a demanda é maior. Muitas frentes de trabalho, emissoras contratando, etc. O que é ótimo, mas cria dificuldades para os autores e diretores. Eu nunca sofri por causa disso, porque sempre parto do princípio que é necessário lançar novos nomes. Tenho feito isso sempre. Quanto à escalação propriamente dita, sempre crio um personagem pensando no ator ideal. Se não der, tudo bem, paciência, mas posso afirmar que tenho tido sorte”.
É muito procurado por atores quando está para começar a escalação do elenco?
“Bem, desejar um lugar ao sol é direito de todo mundo. Recebo bem os candidatos que me procuram e tenho conseguido um sangue novo bastante proveitoso”.
As novelas têm vida longa?
“Se as novelas vão acabar? Claro que não! O romance não acabou, ainda que tenha dado o último suspiro por várias vezes. Novela é para sempre: longa ou curta, isso não tem a menor importância”.
Em que a tecnologia ajuda?
“Em tudo, desde que não elimine, nem mesmo diminua ou apague o brilho de um trabalho, seja de autor, diretor, elenco”.
Acredita que a TV em 3D pode mudar o conteúdo das novelas?
“É um progresso técnico. Vai enriquecer, sem dúvida. Vai exigir mais trabalho, aperfeiçoamento e dedicação, mas no fundo o que vai valer mesmo, em qualquer novela, é uma boa história. Como sempre”.
Está mais difícil elaborar as tramas e agradar o público que está cada vez mais exigente?
“Não é fácil criar uma história, seja no veículo que for: cinema, teatro, TV, mas eu repito: uma boa história bem contada vai ser sempre sucesso. É só o que o público quer, aqui ou em qualquer lugar do mundo”.
Acha que a TV perdeu muitos telespectadores por conta das novas mídias e até das emissoras concorrentes?
“Sem dúvida, mas a TV já ingressou no mundo das novas mídias, como parceira de primeira grandeza. Dessa parceria todos sairão ganhando, principalmente o público”.
Acredita que as novas mídias ajudam a divulgar o conteúdo das novelas?
“E muito! A TV precisa de todos e de tudo — e tudo e todos precisam da TV. As novelas precisam ser comentadas e criticadas, pois a audiência começa aí: na repercussão nas novas mídias”.
As novelas dos anos 70 devem ser referência para as que são feitas hoje?
“Não. Da mesma maneira que os filmes de Hollywood dos anos 70 não são referências para o que se faz hoje. Cada década dita um comportamento, um viés da sociedade, que não adianta imitar, pois soa fake”.
Você começou como ator, por que resolveu escrever novelas?
“Para sustentar a minha família. Aos 20 anos, era casado, pai de um filho e com o segundo a caminho. Os atores ganhavam mal, como até hoje ganham. E os autores ganhavam muito bem, como até hoje ganham. Mas é claro que teve também o prazer de escrever e ler, pois sempre fui ligado à literatura, desde criança”.
Qual das suas novelas é a sua preferida e a que considera melhor?
“Tenho dito e repetido: gosto das minhas novelas, gosto do que escrevi e do que consegui passar do meu pensamento. Para mim, novela nunca foi apenas divertimento, mas um compromisso social. Se eu vendo carros, xampus, bancos, por que não posso vender bons exemplos e boas atitudes sociais?”.
O que acha dos ‘remakes’?
“Acho ótimo. Aí sim devemos imitar Hollywood. O que é bom pode e deve ser repetido, sob uma nova visão. Se vai sair melhor ou não, quem vai decidir é o público. Minha novela ‘Por Amor’ foi reprisada no canal Viva, com grande audiência. As pessoas falavam comigo como se estivessem assistindo pela primeira vez. E os que realmente viam pela primeira vez, me perguntavam: por que não se faz mais novelas assim, com essa emoção?”.
Tem alguma história de bastidor que marcou muito a sua vida?
“Tudo que vivi na TV nesses anos todos que tenho de experiência como ator, produtor, autor e diretor, tanto na teledramaturgia, como nos programas musicais e jornalísticos que fiz, tudo isso me marcou para sempre. Tenho orgulho do meu passado na TV. E me esforço para que o meu presente faça jus a esse passado”.
Na TV o que gostaria de fazer que ainda não fez?
“Fiz tudo que pude. Não tenho arrependimentos. O que não fiz melhor, não posso corrigir, mas posso pedir desculpas e tentar outras tantas vezes. Mas não gostaria de deixar a TV e me aposentar dessa profissão, sem voltar a fazer um teleteatro, como fiz durante tantos anos no Grande Teatro Tupi, do Sérgio Britto”.
Quais seus próximos projetos?
“Tenho que fazer mais uma novela, por contrato, que vai até 2016, mas quero ver se não faço, se fico com minisséries, séries, assessoria, etc. Talvez consiga esse benefício, talvez não. Mas seja qual for o resultado, estou feliz com meu trabalho”.
FONTE\ODIA




















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