Livro traça perfil de Chico Buarque através
das entrevistas que deu ao longo da carreira
Por Pedro Landim
Em 1967, Chico Buarque resumia sua carreira à revista ‘Fatos e Fotos’: “Quis ser palhaço, bombeiro, intelectual, jogador de futebol, padre, deputado, ladrão de automóveis, galã e arquiteto. Nada deu certo e acabei tocando violão”.
O artista pelo próprio, através de entrevistas e fotografias em jornais e revistas ao longo da carreira, além de belas descobertas em arquivos da família compõem o livro ‘Chico Buarque: Para Seguir Minha Jornada’ (Ed. Nova Fronteira, 429 págs., R$ 59,90), da jornalista Regina Zappa, amanhã nas livrarias.
“Chico falava mais livremente quando jovem, na época anterior ao culto às celebridades, à perseguição dos paparazzi”, diz Regina. “Desde a primeira entrevista de três horas, aos 22 anos, ao Museu da imagem e do Som (MIS), até hoje, sobressaem a coerência no pensamento e a maturidade precoce”.
O trabalho criterioso de pesquisa, detonado pelo vasto material colecionado por Cecília Buarque de Hollanda, tia do compositor, revela um Chico que, famoso pela discrição, abre a alma como poucos quando fala. Dividido cronologicamente, como muitas cartas e manuscritos, o ‘almanaque’ de Regina vai de 1944, nascimento do compositor, aos dias atuais.
Em 1980, à revista ‘Manchete’, ele confessou precisar de três doses de uísque antes de entrar no palco para acabar com a “tremedeira nas pernas” e conseguir cantar. E pouco depois afirmou, à revista feminina ‘Claudia’: “Está me faltando um filho homem”.
Sobre sua relação com as mulheres, cantadas em primeira pessoa em muitas canções, o resumo veio num DVD gravado em 2005: “Me sinto como um ‘voyeur’ diante das mulheres e gosto de observá-las, não ser observado”.
A experiência com drogas rende passagens divertidas, quando Chico diz que foi só no básico (“fumei, cheirei, tomei ácido”), mas largou tudo. “Nunca fui um bom maconheiro”, afirma. E conta que tentou fumar para curar a insônia, mas a droga o excitava.
Estão também nas páginas um bate-papo entre a escritora Clarice Lispector e Chico, publicado em 1968, e a hilária entrevista concedida ao jornal ‘Última Hora’ por Julinho de Adelaide, pseudônimo do compositor para driblar a censura durante o governo militar. Filho de Dona Adelaide, moradora da Rocinha, Julinho era um cantor de rádio que não se deixava fotografar porque precisava “preservar a imagem”.
LEMBRANÇAS DE CHICO
ELEFANTE
Chico Buarque era criança na casa da Rua Haddock Lobo, em São Paulo, e um dia avisou aos pais que havia um elefante no quintal. Maria Amélia, a mãe, o mandou para o quarto estudar. O pai, Sérgio Buarque, intelectual importante, retrucou: “Joga no lixo”. E os pequenos olhos verdes prosseguiram fascinados diante do animal gigante e real que fugira de um circo. A passagem é descrita em reportagem de 1967, da revista ‘O Cruzeiro’.
CUECA
Em 1968, em Nova York, Chico foi à casa do então cunhado João Gilberto e depois disse que eles haviam feito um curta-metragem cujo tema era uma cueca gigante, que eles mandaram fazer e foi vestida por sete pessoas. A história foi contada na revista ‘Contigo’.
SAPATO FURADO
Em 1969, a falta de cuidado com a imagem é descrita com o humor habitual à revista ‘Fatos e Fotos’: “Não tenho um barbeiro especial e o cabelo aparece cada vez de um jeito. Uso um par de sapatos até furar e minhas calças são meio largas”.
PELO TELEFONE
Em vídeo que faz sucesso no YouTube, de programa de Hebe Camargo na TV Record, em 1966, Chico aparece ao lado de músicos como Donga e Pixinguinha. No livro, ele conta que passou vergonha ao cantar ‘Pelo Telefone’, tido como o primeiro samba gravado, ao lado de Donga, o autor. Chico cantava errado desde criança, quando aprendeu com o pai, que trocava a letra. “Me lembro bem do Donga irritado, me corrigindo, mas eu não tinha jeito de desaprender o que sabia de cor
FONTE\ODIA
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