Leo Jaime:
"Meninas normais estão sempre
sorridentes. As bonitas, sozinhas"
O cantor se reinventou, virou uma espécie de guru do sexo e
do amor e parece entender o universo feminino como poucos
Por Thayana Nunes
Ídolo pop nos anos 1980, Leo Jaime ressurgiu para o público nos últimos anos como um dos grandes experts de sexo e assuntos femininos da televisão brasileira.
Participa do bate-papo do "Saia Justa", ajuda casais a superarem as crises na relação no reality "Detox do Amor", e fala abertamente sobre qualquer tema relacionado a uma boa transa no "Amor & Sexo", que em breve chega à sua sexta temporada na Rede Globo.
Como sabe de tudo isso? Aos 30 anos, Leo trabalhou na revista feminina "Capricho" e uma boa conversa de bar com as amigas é um de seus programas favoritos desde sempre.
Mas claro que compor é sua principal inspiração. "A gente escreve de amor e relacionamento o tempo inteiro.
É um pouco o trabalho do cancioneiro popular". Leo hoje até brinca que nasceu "para ser a Oprah do Brasil".
Na entrevista ao iG Gente, Leo, aos 52 anos, conta também como mudou o rumo de sua carreira depois que "a indústria do disco fechou as portas" para ele no final dos anos 1990.
Ele precisou se reinventar como artista trabalhando como jornalista, roteirista da Globo, blogueiro, ator e até humorista de stand up.
"Durante muito tempo eu causava uma certa estranheza nas pessoas. Esse cara não é músico? Agora ele é ator? Jornalista? O que ele está fazendo aqui?".
Você tem milhares de seguidores no Twitter, tem blog, escreve para o site do GNT. Como nasceu essa sua relação com os fãs na internet?
As gravadoras fecharam as portas para mim nos anos 1990. Em 1996, na verdade, quando lancei o meu último disco. Daí em diante eu não fiz mais parte da indústria até 2008. Nesse período comecei a me expor na internet e percebi que podia fazer alguma coisa. Descobri o blog como uma forma de me comunicar com as pessoas. Foi um sucesso. Isso era 1999.
E você acha que foi o sucesso na internet que te levou para a televisão?
Foi, a própria mídia começou a me chamar. Comecei a aparecer por outros motivos e não somente por causa da música. Era uma demanda reprimida, o público tinha interesse em fazer contato comigo.
Leo Jaime no início da carreira, aos 25 anos; na peça "Os Cafajestes" de 2008; com
Isabella Garcia na novela "Bebê a Bordo"; e como Tavinho no filme "Rock Estrela
“As gravadoras fecharam as portas para mim nos anos 90. Descobri o blog como forma de me comunicar com as pessoas
e foi um sucesso. Isso era 1999"
Vi que escreveu em seu blog em 2003 que tinha acabado de assistir pela primeira vez a série “Sex And The City”. Você citou o quanto seria legal se pudesse escrever sobre o tema. Você já imaginava que isso aconteceria?
Nunca escrevi sobre sexo especificamente. Comecei a escrever no Globo em 1988. Depois de três anos fui para a "Capricho", como colunista. Foi um exercício. Homem adulto, com 30 anos, escrever para uma revista feminina de 14, 15 anos. Em seguida, fui para outra revista feminina, a "Desfile", e depois para o jornal "O Dia". Escrevia sobre televisão, cultura e comportamento. E quando eu vi “Sex And The City”, vi que o assunto era realmente mobilizador. Poucos homens escreviam sobre isso. Achei interessante. Brinco no Twitter que nasci para ser a Oprah no Brasil, porque eu consigo de alguma forma criar uma discussão sobre qualquer tema.
Mas de onde vem todo esse seu interesse pelos conflitos femininos?
Exercito um olhar para isso. Tenho muitas amigas e tem as próprias músicas que eu escrevo. Não é um universo tão estranho assim para um letrista de música popular. A gente escreve de amor e relacionamento o tempo inteiro. É um pouco o trabalho do cancioneiro popular.
E qual a reclamação recorrente nessas suas conversas com as amigas?
É difícil... Mas acho que a principal é que falta homem. Não importa a idade. Há sempre uma sensação de que o universo delas é mais limitado de escolhas. E se você pensar de certa forma, as mulheres evoluem muito, crescem muito profissionalmente. Eu me lembro quando eu entrei na faculdade, era metade homem, metade mulher. No final era muito mais mulher se formando. Então você vê muito mais mulher crescendo profissionalmente.
“A queixa recorrente que ouço das mulheres é de que falta homem. Tem que olhar para uma pessoa e enxergar qualidades que não têm a ver com o status dela"
Mas eles continuam ganhando mais...
Ainda existe uma defasagem. Mas esta mulher que ascende, ela quer ter ao seu lado um homem que admire. Se as mulheres vão ascendendo e vão tomando o cargo que era dos homens, menos homens ascendem. Depois, ela não quer homem nem mais novo, nem que ganhe menos que ela. Então fica cada vez mais difícil.
E quando elas falam que “falta homem”, o que você fala?
Tem que olhar para uma pessoa e enxergar uma qualidade que não necessariamente está relacionada ao status dela. O cara tem que olhar para uma mulher e falar “taí uma boa mulher”. Assim como um gay pode falar gostei desse cara, acho que ele tem um potencial enorme, caráter bom, uma boa conversa, uma boa trepada, sei lá o quê. Isso tudo pode ser suficiente. Talvez a mulher queira uma coisa pronta, embrulhada para presente e de preferência testada pela outra.
O Brasil ainda é um País muito conservador?
Nós somos um povo conservador, somos um povo que gosta de fazer as coisas escondido. Nunca um amigo meu hetero ou gay assumiu que saiu com um travesti, mas a gente sabe que eles estão aí. É um desconforto que as pessoas têm com a própria sexualidade, ou principalmente com o que os outros pensarão. É como se a afetividade fosse uma coisa e a sexualidade fosse outra. E as duas não devessem se misturar. No fim das contas, todo mundo quer afeto e sexo é uma forma de demonstrar afeto.
Leo Jaime na apresentação da 4ª temporada de "Amor & Sexo" do GNT,
e logo quando os homens entraram no "Saia Justa"
“Não existe relacionamento perfeito e nem desejo estático. Nosso desejo vai mudando, novas curiosidades, novos gostos"
Existe relacionamento perfeito?
Não existe relacionamento perfeito e nem desejo estático. Nosso desejo vai mudando. Novas curiosidades, novos gostos...
As pessoas não conversam sobre sexo?
Acho que o sexo é muito supervalorizado. Como se ser desejada pelo maior número de pessoas possíveis fosse uma receita de felicidade. Na verdade nunca é. Uma amiga me falou uma coisa que ela observou: as meninas que não são muito bonitinhas, são normais, meio gordinhas, elas estão sempre com namorado, sempre sorridentes. As bonitinhas estão sempre sozinhas e sempre chateadas.
O que as mulheres bonitas têm que fazer para se cobrarem menos?
Baixar as expectativas. A menina bonitinha acha que é uma princesa, então pensa “Cadê o príncipe?”. “Ah, mas ele chegou e não veio em um cavalo branco, ele veio com uma mancha”. Ela não se satisfaz nunca. Sempre tem uma cobrança de perfeição de si própria, do mundo, passa pela vida como se estivesse passando pelo tapete vermelho. Sempre digo que grandes expectativas geram grandes confusões.
Você fazia o maior sucesso com as mulheres no auge da sua carreira nos anos 1980. Gostava dessa fama de galã?
Fiz umas músicas como “Sete Vampiras”, que é sobre um cara que tem sete mulheres atrás dele, ou “Bambolê”, de um cara que manda bilhetinho pra todo mundo para um filme, mas as pessoas achavam que eram autobiográficas. Nunca me senti gaã. Ninguém tem medo de chegar perto de mim.
“Acho que o sexo é supervalorizado, como se ser desejada pelo maior número de pessoas fosse uma receita de felicidade. Na verdade, nunca é."
Você engordou. Já declarou sofrer de uma disfunção hormonal..
Tenho um problema de saúde crônico que é o pan-hipopituitarismo. Isso me faz malhar, malhar, malhar, e não perder a barriga. Por mais que eu tenha perna, braço, tudo em forma, e percentual de gordura normal, tem a gordura visceral que não queima. Quando você não tem a produção natural do hormônio de crescimento, acontece isso. Não tenho excesso de peso, mas pareço gordo.
Te incomoda parecer gordo?
Esses dias eu fiz um check-up e deu tudo normal. Exame do coração, glicose, tudo perfeito para a minha idade. Claro que gostaria de inverter isso de tal forma que eu não tivesse que ter barriga, seria ótimo, mas se minha saúde está boa, a aparência não importa muito.
Como está sendo a experiência de estar no “Saia Justa”? Vai continuar por lá?
A popularidade do “Saia Justa” é muito grande. Eu experimento isso na rua. Os homens entraram e hoje é um formato que está consagrado com a presença de homens. As mulheres querem saber o que os homens pensam. Todos estão muito bem adaptados, e em breve teremos um novo nome. Mas ainda não sei nada, não sei se os homens saem ou ficam.
Além de compor, você é jornalista, cronista, comentarista, blogueiro e também atua. Vai participar mesmo da próxima temporada de "Malhação" como par-romântico da Danielle Winits?
Fui convidado, fico me dividindo em várias atividades e funções, o que me toma muito tempo porque eu tenho que me preparar para as coisas. Tenho tido múltiplas atividades e de alguma forma continuo tendo a cara de pau de continuar atuando nessas várias frentes, porque nunca tive fracassos. Eu venho mantendo um padrão de qualidade, coerência em tudo o que eu faço. E me ofereço a desafios.
Acha que errou em algum momento? Tem algo de que se arrependa?
Fazer stand up. Foram 87 apresentações. Fui muito mal, evidentemente. Como você ensaia isso? O pessoal não riu! Mas depois fui melhorando e as pessoas gostaram.
“A mulher quer ter ao seu lado um homem que admire. Se as mulheres vão tomando o cargo que era dos homens, menos homens ascendem. Depois, ela não quer homem nem mais novo, nem que ganhe menos. Fica cada vez mais difícil"
Mas se sente realizado aos 52 anos?
Não. Acho que não cheguei lá ainda. Estou começando. Começando há bastante tempo. Quando eu olho para trás, vejo que já realizei bastante coisa. Estou interessado em saber o que eu vou fazer agora. Estou muito satisfeito com as oportunidades, com os convites, as parcerias, com a forma com que consegui criar uma relação com o público. Com tão variados caminhos. Eu sinto que sou bem recebido. Durante muito tempo eu causava uma certa estranheza. Esse cara não é músico? Agora ele é ator? Jornalista? O que ele está fazendo aqui? Eu era um estranho na redação do jornal, um estranho na música. Fui estabelecendo um caminho plural, que parecia falta de foco. Paguei um preço por isso. Mas hoje percebo que com consistência, profissionalismo e alguma competência, as coisas acontecem.
FONTE\IG
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