Adriane Galisteu:
"Cada tombo que tomei me transformou na pessoa que sou hoje"
Por Marina Bonin Fotos Danilo Borges
Adriane Galisteu não perde tempo. Sem atraso, mas com passadas aceleradas, ela se dirige para o estúdio de Danilo Borges, em São Paulo, para fazer as fotos de capa da QUEM.
Durante a maquiagem e o penteado nos fios castanhos - que ela pretende retocar após as fotos -, Galisteu chama o cinegrafista pessoal, que a acompanha, e aproveita para gravar de modo bem informal um novo vídeo para o seu canal do YouTube, o #semfiltro.
A agenda da estrela anda cada vez mais apertada desde que foi escalada para a novela das 7.
Entre outros tantos compromissos profissionais, está a gravação de seu programa semanal Papo de Almoço, na Rádio Globo.
Mesmo assim, ela diz que nunca esteve tão feliz.
"Minha vida está corridíssima. Sou uma mulher que vive para o trabalho. É a minha vida e gosto do que eu faço. Sou feliz por conseguir pagar as minhas contas com a carreira que escolhi para mim. Eu estranho quando estou de dondoca. Não sou eu. O trabalho faz parte do meu DNA.”
Galisteu apenas desacelera, meio que sem se dar conta, quando o assunto é o filho, Vittorio, de 8 anos, e o marido, Alexandre Iódice, 46.
Casada desde 2010 com o empresário do ramo da moda, ela afirma que ele botou ordem em sua vida e a deixou menos ansiosa.
"Todos os meus relacionamentos eram para casar. Sempre entrei no relacionamento pensando no filho lá na frente. Tinha uma ansiedade e carência, mas mudei", conta ela, que namorou o piloto de Fórmula 1 Ayrton Senna, em 1993, e foi casada com Roberto Justus, em 1998.
Atualmente, Galisteu prefere fazer planos apenas para a próxima semana.
"Não costumo fazer grandes planos. Para não me machucar, prefiro viver o hoje. Basicamente sou uma mulher do presente", afirma ela, que, na entrevista, deixa escapar a vontade de ter o segundo filho após o fim da novela por meio de inseminação artificial.
"Vamos ver se quando acabar a novela ainda dá tempo."
Como sente-se ao conquistar o primeiro papel em uma novela da Globo aos 45 anos e após tantos altos e baixos na carreira?
Quando me vejo aos 45 anos, morena e fazendo uma novela na Globo, me sinto tão grata e feliz! Fui chamada para fazer o teste dessa novela, assim como qualquer outro ator. Não fui convidada para o papel. Me dediquei muito para passar neste teste. Fiquei esperando o telefone tocar e bem nervosa para saber se tinha passado. Era algo que eu queria muito por mim, pela minha história e por tudo o que eu vivi. Hoje minha vida está corridíssima. Vivo viajando entre Rio e São Paulo - mesmo morrendo de medo de avião -, estou gravando o tempo todo, passo dias longe da minha família, minha agenda pessoal fica na dependência da agenda de gravação para ser definida, mas mesmo assim estou superfeliz. É um baita presente profissional. Vou ter mais essa história para contar na minha carreira. Faço rádio, teatro, já apresentei programa de TV ao vivo, gravado, em canal de assinatura, fiz a 'Dança dos Famosos', cinema... Um pouco de tudo! Isso faz muito sentido na vida de um artista, que só tem a ganhar quando agrega mais conhecimento ao trabalho.
Recentemente, circulou pela web uma entrevista de cinco anos atrás em que você dizia que depois de Xica da Silva (Manchete, 1996) tinha ficado traumatizada e só voltaria a fazer novela se estivesse passando fome. O que te fez mudar de ideia?
É legal você perguntar isso. A gente muda. O mundo gira e a gente muda de opinião. Falei tantas coisas que eu não concordo mais. Um exemplo que eu adoro citar é o de quando eu falava 'eu odeio amarelo'. Até a minha casa estou pintando de amarelo agora (risos). A gente muda e começa a pensar diferente, graças a Deus. Os tempos são outros. Também pensava que nunca fosse me casar e ter filho, que eu nunca fosse conquistar as coisas que eu tenho... Se olhar para trás muitas coisas deram certo e muitas não deram. Como é legal mudar de ideia. A gente sai da zona de conforto, ousa e experimenta coisas novas.
Você ficou conhecida após a morte do Ayrton Senna, em 1994, mas sua carreira começou cedo, aos nove anos. Como surgiu esse interesse pelo meio artístico?
Essa escolha foi aos 9 anos de idade, não foi depois da morte do Ayrton. Depois da morte dele fiquei reconhecida nacionalmente, mas antes disso já tinha a experiência. Eu cantava, fazia campanha de televisão e era modelo... Tem uma galera que pensa que eu sou youtuber e comecei agora. Tenho um público que eu agrego, mas também tenho um público superjovem, que não conheceu a minha história e para quem eu ainda tenho que me apresentar. Quando eu tinha nove anos, tinha uma amiga na escola que se chamava Ana Paula Vilela de Castro. Nunca mais vi essa menina e adoraria encontrá-la. Ela era muito querida e linda. Ela era modelo infantil. Eu era gordinha, dentuça, a última da fila e ela era magrinha, nariz fininho, tinha os olhos azuis, chiquérrima. Eu queria ser como ela. Da minha casa, assistia aos comerciais de TV em que ela aparecia. Comecei a ficar no pé dela, pedindo para ela me levar um dia com ela em um dos testes. Um dia rolou. Me lembro da minha mãe me preparando: ‘Filha, a gente toma muito não da vida, não é fácil para ninguém’. Ela falava para eu não ficar decepcionada. Fui animadíssima. A primeira campanha foi como figuração. Aparecia só um pedaço do meu cabelo na cena. Recebi muitos ‘nãos’. Esses ‘nãos’ me chatearam, mas em nenhum momento me desanimaram ou mexeram comigo a ponto de eu achar que não servia para isso. Desde cedo, o meu sonho era apresentar um programa. Mas, para chegar ali, eu tive que passar por caminhos que eu não queria.
O que mais te surpreendeu neste universo artístico?
A primeira coisa que me chocou foi a falta de rotina e de horário. Tem que chegar às 7 horas da manhã, para começar a trabalhar ao meio-dia e para parar de trabalhar à meia-noite. Você tem que ser pontual, esse trabalho tem menos glamour do que a gente pensa. Até tem a parte do glamour, de poder usar as melhores roupas, maquiagens, mas não é nada seu. Sem dor você não vai conseguir ganhar nada. Então, o primeiro choque que eu tive foi o de ver que esse universo não era tão glamouroso como eu imaginava. A segunda surpresa foi que eu não vi aquilo que eu tanto ouvia de que no mundo artístico era todo mundo drogado e que só tinha putaria... Só vejo trabalho, trabalho, trabalho. Não sei se é porque não faço parte dessa galera ou se para mim não chegou nada deste gênero. Me lembro que as pessoas falavam: ‘Artista? Isso não vai dar coisa boa, não. Ela vai ficar grávida cedo e antes de casar, vai namorar muito...’. Apesar de que isso de namorar muito acertaram (risos). Mas só nisso!
Você nunca pensou em desistir da carreira artística por causa desses “nãos” que recebeu?
Nunca pensei em desistir da carreira. Não tem a menor condição porque amo fazer isso. Quando estou fora do ar, estou lendo algum texto para fazer teatro, algo que exige confinamento, um estudo... Já fiz 12 peças e não vou parar de fazer teatro de jeito algum! Recebo até hoje muitos ‘nãos’. Mas só me deixei abalar com as perdas enormes que sofri. Até hoje essas perdas são difíceis de entender. Perdi meu irmão muito jovem (Alberto era portador do vírus HIV e morreu em 1996), meu pai aos 15 anos (Alberto morreu de infarto fulminante em 1989) e o Ayrton se foi quando ele tinha 34 anos (o piloto morreu em um acidente automobilístico em 1994). Essas perdas fora de ordem e de hora mexeram tanto comigo e me abalaram tanto, que eu cheguei a falar com Deus: ‘Chega! Você já me levou um monte de gente’. Mas sou uma mulher feliz por opção. Acho que ou você agarra a felicidade ou se chafurda na tristeza. Tem gente que fica reclamando da vida mesmo de barriga cheia. Eu não sou assim. Tenho os meus dias tristes, choro, me permito fazer isso, mas tenho dia e hora para parar. A vida passa muito rápido, em um piscar de olhos. Meu filho já tem oito anos. Depois do nascimento dele, ficou mais claro ainda que não vale a pena perder tempo. Então, cada ‘não’ que eu levo, cada dificuldade que eu enfrento, me fortalece e me faz uma pessoa melhor. Tento mostrar isso para as pessoas por meio das redes sociais. Tem gente que acha que a rede social é uma alienação. Pode até ser porque é um ambiente que tem mentiras, superficialidades. Mas também tem um espaço para você olhar e seguir exemplos. Ver que a vida não é só feita de coisas maravilhosas. Cada tombo que tomei me transformou na pessoa que sou hoje.
Na biografia do seu site você diz que morre de medo das puxadas de tapete que a vida dá. Não ficou calejada após tantas perdas?
Eu sou medrosa. Uma pessoa destemida é meio irresponsável. A gente tem que ter medo porque a vida não está fácil para ninguém. Para quem vive no Brasil, então... Temos medo até de sair de casa. Mas, na verdade, tenho medo da vida. É o que mais me assusta. Você está muito bem e, de repente, vem uma notícia ruim, uma coisa que não está no seu controle. Tenho mais medo das surpresas desagradáveis que a vida pode te proporcionar do que de saltar de paraquedas. Eu já saltei e não quero saltar mais. Está ótimo assim, ainda mais depois que o Vittorio nasceu. Ter medo da vida, na minha opinião, não significa não viver e não curtir, é saber que você pode amanhã não estar mais aqui. Isso não tem quem te explique e em quem se agarrar. A gente só tem essa vida para viver. Então, vamos ser feliz! A vida me mostrou várias vezes que nada é tão bom que não possa piorar e nada é tão ruim que não possa melhorar.
Qual é a importância do trabalho na sua vida hoje?
Tenho essa característica de achar difícil falar não para trabalho. A segunda característica que carrego comigo é a de gostar deste ritmo de trabalho. Como precisei muito de dinheiro e tive que ajudar a minha família desde cedo, a minha vida ficou neste ritmo desde sempre. Eu estranho quando estou de dondoca. Não sou eu. O trabalho faz parte do meu DNA. Se eu estou de dondoca, boto a mão na massa. Dei sorte porque escolhi uma profissão que me dá prazer e que eu sei fazer. Tenho muita coisa para aprender, vou abrindo o meu leque. Ao mesmo tempo, consigo me sustentar. Vejo muita gente que tem talento, mas tem que fazer outra coisa para poder se dedicar ao que ama, como um músico que trabalha no banco para poder tocar nas horas vagas. Me sinto privilegiada.
Em paralelo à sua carreira, muitas notícias que saíam sobre você tinham a ver com a sua vida amorosa. Te chamavam de namoradeira e de outros adjetivos pejorativos.
Você nunca ligou para isso? Sempre foi empoderada?
Nunca levantei bandeira. Fico preocupada de levantar bandeiras e mudar de ideia. Mas nunca deixei apertarem esse botão (da culpa) em mim. Sempre acreditei que o amor é para ser bom, para somar e para ser melhor do que estar sozinha. Se não estiver bom, não tenho a vergonha nenhuma de acabar e de abrir a porta para que a fila ande. Faz parte da vida! Sempre pensei assim: ‘Não vou ficar mal casada, não vou ficar com um homem que não me beija na boca’. Depois de um tempo, falam que cai na rotina. Estou há dez anos com o Ale e exijo beijo na boca e de língua. Esse papo de beijinho na testa, de selinho, não dá. Vai ficando amigo. Não faz bem. Acho que a gente tem que viver como namorados. Claro que a gente tem dificuldades, diferenças, discussões, mas a gente vira a página e namora. Também temos que ter o nosso tempo, mesmo com filho, temos que, às vezes, falar menos e falar mais. Quando não está bom assim, não está bom mesmo. Se não está bom para mim, não está bom para o outro. Não fico em uma história falida e que não tenha amor porque os outros vão achar isso ou aquilo. Nessa hora que se dane os outros. E olha que eu tinha a minha mãe que ficava o tempo todo me cobrando. Ela foi uma mulher criada à moda antiga, que se casou virgem, teve só o meu pai... Meu pai faleceu com 54 anos e ela nunca mais beijou outra boca. Sou o oposto dela. Ela é tímida e eu sou uma mulher que vai atrás. Eu descobri que era namoradeira depois de um tempo quando fui ler as capas de revistas que estavam assim ‘encontrei o homem da minha vida’, ‘separei’, ‘casei’, ‘separei’. Tomei um susto! Que velocidade. Mas prefiro assim. Não me arrependo de absolutamente nada, só de ter ficado mais tempo do que eu deveria com pessoas que não mereciam.
E você viveu todos os seus relacionamento intensamente, né?
Todos os meus relacionamentos eram para casar. Sempre entrei no relacionamento pensando no filho lá na frente. Tinha uma ansiedade e carência, mas mudei. Sempre trabalhei tanto, era tão ‘tratorzona’, que precisava ter alguém. Queria um momento que eu pudesse ser eu, mas daí eu escolhia a pessoa errada, que não me queria de verdade, queria a persona. Você só vai descobrir isso depois. A persona existe da porta para fora. A pessoa em casa é descabelada, sem maquiagem, usa camiseta furada... É como é. Como somos todos. Quando saio de casa, é mais arrumada... As pessoas, às vezes, se enganam e levam essa figura para cama. Ficam com essa figura no imaginário e quando você se depara com isso dá uma tristeza enorme. Quando você ama, aceita o pacote todo, não tem que transformar a pessoa em nada. Isso é uma coisa que a gente aprende com o tempo, mas que é fundamental. É fundamental saber que você não precisa mudar nada para ter alguém do seu lado.
Você tinha essa preocupação em agradar o parceiro?
Antes me preocupava. Pensava se eu estava agradando ou não. A gente passa por esses processos antes de amadurecer. Até que cai um balde de água bem gelada e faz a gente entender que não sou eu que tenho que mudar, é ele que não gosta de mim. Aí você vai criando uma casquinha e vai entendendo que não pode desistir e nem achar que você é uma coisa estranha. Nós, mulheres, somos todas poderosas, independentemente de sermos magras, ricas, feias, famosas, anônimas... Não importa. Todo ser humano tem resiliência e tem poder, só tem que botar isso para funcionar. Acreditar em si mesma.
Você teve alguns relacionamentos rápidos. Nunca desacreditou o amor?
Nunca desacreditei no amor e nunca quis ser mulher de quem não tinha vontade de beijar na boca. Até gostei de ficar sozinha por um tempo. Foi uma experiência incrível. Fiquei solteira seis meses e pensava que fosse ficar solteira por uns dois anos. Estava ótimo. Quando tomei essa decisão de ficar sozinha, apareceu o Ale. Ele também estava nesta fase de ficar sozinho. Ele tinha acabado de sair de um relacionamento. Mas a gente começou a namorar. Quando eu menos procurei, achei. Acho que é sempre assim, quando a gente menos procura, a gente acha.
Como vocês se conheceram?
Eu conheci o Alexandre e basicamente a família dele toda quando tinha 18 anos quando fiz a primeira campanha da Iódice de jeans. De lá para cá, a gente se encontrava socialmente. A gente tinha amigos em comum. Ele mandava peças para eu usar na TV. A gente foi se encontrando cada vez mais, mas nunca rolava nada porque ou eu estava namorando ou ele estava.
Sempre senti aquela coisa no olhar, sabe?
Mas tinha a aflição de ficar com ele porque eu achava que ele fosse meu amigo e não queria estragar a amizade. Vai que não desse certo. Tinha esse receio de dar um passo a mais. Até que um dia eu estava no Rio de Janeiro e solteira. Ele tinha acabado de se separar. Eu fui correr na orla. Ele estava hospedado no Fasano, liguei para ele e perguntei se ele não queria correr comigo. Ele falou: ‘Claro que eu quero’. Corremos, fomos para casa, onde tinha uma galera, depois fomos assistir a um show do Djavan e após o show paramos em uma pizzaria 24 horas. Ainda o convidei para assistir a um filme. Isso lá pelas 3h30 da manhã. E assim foi. A gente fez um dia maior do que o normal. Rolou um beijo neste dia e nada mais. Só um beijo! A gente começou a namorar a partir deste dia. De repente, eu fiquei grávida, daí a gente casou... As coisas aconteceram sem grandes planejamentos. Ele não tinha grandes planos comigo e eu também não tinha com ele, mas rolou. Aconteceu quando a gente menos esperava.
Vocês estão casados há oito anos. Não passaram pela famosa crise dos sete anos?
Eu amo o número sete! Acho uma bobagem se apegar a essas ideias. Eu nunca tive uma crise com o Ale e amo isso. Quando a gente tem um problema, a gente tenta resolver isso o mais rápido possível. A gente não coloca os problemas debaixo do tapete. A gente resolve quando aparece e da melhor forma possível. Detesto dormir brigada, fazer climão... Não é o meu jeito. Eu resolvo logo, apesar de não ter muito jeito de falar. Sou ariana. Ariano não sabe falar. É grosso e estúpido, mas acha que está falando tudo normalmente. Daí a gente convida a pessoa para tomar um café e ela fala: ‘Como assim? Você acabou de ser uma cavala’. A gente nem percebe que foi grosso. Melhorei muito, mas, às vezes, tenho o dom de ser grossa sem perceber. Já ele pensa muito nas palavras, toma muito cuidado para não magoar as pessoas, é mais sério e pé no chão. O Ale botou a minha vida em ordem. Quando ele chegou a minha vida estava uma bagunça. Eu cheguei com uma feira toda, com pepino e abacaxi, para ele resolver. Na vida em casal, um participa da vida do outro, apoia, admira, quando pode está ao lado, mesmo sendo de um universo diferente do seu. Eu gosto de moda, mas não entendo tudo sobre esse universo. Ele também só entende o lado burocrático da minha vida, mas na frente das câmeras não entende nada. Então, acho que o mais importante é a admiração para não chegar nos sete anos e ter uma crise. Tem que se manter sempre se admirando. A admiração para mim é a coisa mais importante.
Qual a importância do sexo em um relacionamento de tantos anos?
Não precisa transar todos os dias. Seria ótimo, mas fisicamente é difícil, depois que se tem um filho, ele vai lá no quarto e entra... É diferente. Tem outro ritmo e estrutura. Mas namorar é fundamental. Tem que sair de casa, fazer viagem só com o marido e encontrar o jeito de fazer com que esse momento a dois seja natural e faça parte de sua rotina.
Falando sobre beleza, você está com 45 anos e com um corpaço. Como faz para manter a boa forma?
Sou uma mulher que me cuido sem neuroses. Junho e julho são dois meses que geralmente não faço dietas porque esfria, tenho mais fome, viajo com o Vittorio para lugares que só tem bobagens para comer. Me jogo de verdade. Engordo dois ou três quilos. São os meses que tiro a paranoia do dia a dia. ‘Ah, então você vive na paranoia?’. Não! Aprendi a ser feliz assim, comendo pouco fazendo ginástica, correndo... A corrida hoje é tão importante para mim. Ela faz bem para a minha cabeça, não só para o corpo. Descarrego a ansiedade, o estresse... Tem dia em que começo a trabalhar às 7h da manhã. A corrida salva o meu dia, minha cabeça e meu corpo também. Sei que mesmo se eu engordar um pouco, tenho um peso 'X' que eu acho que está bom para mim. O peso que eu acho ideal, não que as pessoas acham. Essa medida é caber naquela calça antiga 38. Às vezes, ela não fecha, mas ela é o meu termômetro. Gosto de olhar no espelho e me ver magra. Isso não tem a ver com doença. Na minha casa tem criança e a gente come de tudo. Eu quando estou magra, estou magra mesmo, passando fome. Falando passando fome porque não existe milagre. A única forma que tem de você se manter magra é cortando as coisas deliciosas como o açúcar, a fritura, a massa, a farinha refinada... Daí com a malhação, a gente vai chegar no peso ideal. Não vou dizer que é uma delícia sair e comer uma salada com um grelhado. Mas vivo assim e não sou infeliz por causa disso. Por isso que quando enfio o pé na jaca, enfio os dois. Há muitos anos mantenho meu corpo no mesmo peso. Não mudei após os 40, já mantinha essa vida saudável aos 30. E eu me gosto assim. Tenho os meus defeitos, que não conto nem sob sentença de morte. Aliás, nunca pergunte sobre os seus defeitos para o seu marido. Para que chamar a atenção do boy para os seus defeitos? Ele nem reparou, mas você fala e ele olha e fala que está mesmo. Daí você fica louca! Enquanto eu estiver feliz e me olhando no espelho sem ter que apagar a luz, está tudo ótimo.
Você nunca se rendeu ao silicone nos seios, já se declarou uma “despeitada feliz”. Continua firme em relação às plásticas?
Continuo pensando desta forma. Gosto de mim com pouco peito mesmo. Esteticamente falando, me prefiro assim. Não que eu tenha problema com quem tem silicone. Acho que tem peitos e bocas grandes colocadas maravilhosamente. Mas tem as aberrações também. Eu nunca me deixei levar por aí. Acho que a questão é mais embaixo, como você se vê, como vai administrar isso com o passar dos anos... Normalmente, as meninas são muito jovens quando fazem isso, tomam decisões no impulso e não pensam que um dia vão chegar aos 60 anos. A pele vai enrugar e a bunda e o peito vão cair por mais que você malhe. Não tem jeito e me preocupo com isso. Se você começa muito cedo (a fazer plástica) não tem mais para onde ir depois. Não quer dizer que eu não vá fazer. Se precisar, vou fazer, sim. Os meus peitos estão um pouco tristes, daqui a pouco vão deprimir e quando eles ficarem arrasados eu faço. Eles já tiveram dias muitos melhores, mas é normal. Amamentei o Vittorio cinco meses só no peito! Uma hora eu não vou estar feliz com o que eu estou vendo. Agora no nariz eu nunca vou mexer. Podem falar mal, podem gritar, mas esse é o meu nariz.
Falando de maternidade, você teve uma infância bem diferente da do seu filho. Como é educar seu filho nessa era?
A gente tenta dar tudo o que não teve para o filho. Quase vira um trauma de infância. A gente procura o melhor colégio, dá brinquedos... Eu olho a quantidade de brinquedos dele e penso: ‘Nossa, na minha época nem tinha tanto!’. Eu tinha que esperar o Natal para ganhar um. O Dia das Crianças era um brinquedo bem capenga. No meu aniversário ganhava roupas e alguma lembrancinha. Não tem como não mimar o Vittorio porque eu só tenho um filho. Vou mimar quem? Vou mimar o Vittorio! Como faço com esse amor todo que eu tenho para dar? Vou fazer de tudo o que puder para ele. Sei falar não para ele. Ele é um cara que entende o "não" e também fala muito "não". Ele não tem dúvida e sabe o que quer. O pai, o Ale, é diferente de mim, mais sério. Eu brigo várias vezes e o Ale nunca briga, mas quando briga a casa cai. Quando o pai fala a coisa funciona. Dá uma raiva (risos). A gente conseguiu equilibrar. Mas quando saio com ele, compro a lembrancinha que ele quer, não consigo deixar de comprar. Brinco junto. O que eu faço é sempre tentar contar uma historinha triste para ele valorizar o brinquedo. Também gosto de tirar um brinquedo que ele não quer mais e doar para alguém. A gente dá para as pessoas do prédio, que trabalham para a gente ou no final do ano fazemos o saco do Papai Noel. Eu falo que em casa só ganha presente quem acredita em Papai Noel. Então, ele mente para mim e fala que acredita. Tem que aproveitar essa magia o máximo que puder. Ele está crescendo muito rápido!
O Vittorio já atuou como ator no espetáculo A Bela Adormecida. Qual foi a sua reação quando ele mostrou interesse por seguir a sua carreira?
Ele queria fazer teatro. A minha primeira reação foi a de querer fazer também. Assim eu fazia o meu primeiro espetáculo infantil. Fiz a Malévola e ele fez o príncipe. Pensei que ele fosse desistir no primeiro ensaio, é chato ensaiar, demora horas, tem que se dedicar enquanto os seus amigos estão brincando. A gente tinha três sessões no sábado e duas no domingo. Ele não tinha final de semana. Todo mundo no clube ou viajando e ele preso no teatro ensaiando. Ele tinha um stand-in, mas nunca perdeu uma sessão. Não deixava o stand-in fazer, era uma briga. Ele sempre gostou do teatro porque está acostumado a ir desde pequeno. Ele é um menino que pede para ir ao teatro e ao cinema e gosta deste universo. Ele acha que tem um canal no YouTube. Grava umas coisas e acha que eu posto. Estou até com dó. Agora acho que vou ter que criar um canal para ele. Ele me vê gravando as coisas que fala e pede: ‘Mãe, posta aí’. Eu falo que vou postar e não posto. Acho que não vou conseguir escapar. Vai rolar um canal do YouTube logo mais.
Qual o conselho que você dá para ele?
Acho que quanto antes ele se preparar, melhor, quanto mais cedo ele começar, melhor. Mas ele tem que amar o que faz porque o caminho é difícil, sinuoso, cheio de espinhos, tem muitas pessoas para atrapalhar. Ele fala que quer ser jogador de futebol. Ele treina, se dedica... Mas seja o que for, ele tem que gostar. Eu sempre falo: ‘Veja bem se você gosta disso. Veja quantas coisa você tem que fazer para ser bom nisso’. A sua decisão engloba tudo, inclusive as coisas chatas. Às vezes, vemos só o lado positivo pela empolgação. Daí a primeira pedra que encontramos pelo caminho nos faz desistir. Isso mostra que você não ama realmente aquilo que faz. Essa pedra é só a primeira, imagina quantas outras virão!
Você tem vontade de ter mais um filho?
Queria ter mais um filho e estava no processo, ia fazer uma inseminação artificial, mas entrou a novela e parei o processo. Vamos ver se quando acabar a novela ainda dá tempo. Não cheguei a congelar (os óvulos). Deveria ter congelado... Fui pensar nisso já mais velha, então achei que não ia adiantar, que era melhor tentar a inseminação mesmo. Estamos parados agora, mas vamos ver o que vai acontecer.
Como se imagina daqui uns 20 anos?
Vou estar bem velha, mas bem animada e feliz. Mas me imagino trabalhando. Acho que morro trabalhando. É a coisa que eu mais amo fazer. Não costumo fazer grandes planos. Essa é uma característica minha pela própria história que eu tive, prefiro pensar no agora. Não significa que eu seja imediatista. Mas prefiro me resolver agora. Estou fazendo a Zelda na novela e apaixonada pelo meu projeto. Não fico pensando se vou fazer outra novela, se vou ter outro programa, se vou fazer teatro. Só penso em dar o meu melhor, viver o agora. Pelo menos agora isso tem sido assim na minha vida. Acho que é perigoso planejar muito porque a gente pode se decepcionar, criar expectativas grandes. Para não me empolgar e me machucar, eu prefiro viver o hoje. O máximo de futuro que eu penso é até a semana que vem. A Globo me passa o roteiro na sexta-feira e eu consigo planejar como vai ser a semana. Sou uma mulher do presente.
FONTE/QUEM
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