terça-feira, 4 de setembro de 2018

Bruno Cardoso volta aos palcos após doença no coração:
 “Minha vida está começando do zero" 
O vocalista do Sorriso Maroto contou a QUEM que refletiu sobre a vida, reconheceu que se deixou de lado por só pensar em trabalhar e revelou que vai chorar muito em seu show de volta aos palcos no próximo dia 7 

Por Ana Paula Bazolli
Animado e cheio de energia, Bruno Cardoso, vocalista do grupo Sorriso Maroto, pode dizer que renasceu!
 Após ter parado de trabalhar por quase 6 meses para cuidar de uma Miocardite, inflamação na parede do coração, que pode enfraquecer o músculo, gerando insuficiência cardíaca, ele desabafa o que passou.
 “Minha vida está começando praticamente do zero. Talvez o motivo da minha doença tenha sido isso. Coloquei minha energia em muitos lugares e não coloquei em mim”. 
 Ansioso para ver seus fãs e voltar a trabalhar com a turnê Sorriso Voltei, o cantor revela: 
“Fiquei assistindo a vida passar e agora estou redescobrindo os sabores. Estou ansioso porque minha vida agora se tornou uma experiência completamente nova. O frio na barriga hoje é totalmente diferente. 
O olhar das pessoas, o meu olhar para a vida. A perspectiva mudou. Estou vendo a vida de outro foco”, diz. 
 O susto 
 “Estava de férias curtindo na Europa, passei 30 dias muito bem e praticamente no meu último dia de passeio senti um certo cansaço e uma tosse me incomodando muito. Foram 3 dias de tosse intensa. Quando eu cheguei ao Brasil tossindo, à noite me deu um start de ir ao hospital. Senti que essa tosse já estava afetando a minha voz. Achei que era uma crise alérgica, porque já tinha acontecido igual. Fiz exames de rotina e um médico perguntou se eu tinha algo de coração, algum histórico familiar. Um segundo médico falou para eu ir em um cardiologista. Depois veio um terceiro médico, mais experiente, que fez uma bateria de perguntas e me falou: ‘Estou vendo aqui se tem alguma coisa no seu coração, além do pulmão bastante inflamado. Você está com uma suspeita de pneumonia, com o pulmão carregado. Estou preocupado com um sopro que deu no coração. Você não quer internar?’. Fiquei um pouco assustado, porque odeio ficar no hospital e eles estavam insistindo. Fiz os exames pela manhã e deu pneumonia. No ecocardiograma me deu algo além do que estávamos imaginando. Conseguimos um cardiologista que meu o diagnóstico de miocardite. Isso me deixou no hospital por quase 20 dias”.

 O tratamento e restrições
 “A pneumonia foi curada, ganhei alta, mas ainda não tinham a resposta da miocardite. Fiz uma biópsia e comecei a usar os remédios para o processo de cura. Com isso, ganhei o crédito de voltar aos palcos, fazer meus shows, mesmo com o passo mais lento que o anterior. O plano agora é trabalhar um pouco menos, seguir com os medicamentos. Estou fazendo reabilitação cardíaca e pulmonar, uma espécie de academia comum, mas toda monitorada por médicos cardiologistas. Eu sou o tempo todo monitorado por pressão e frequência cardíaca durante os exercícios. Possivelmente vou seguir isso para a vida toda. Atividade física é recomendada para todo mundo. Fora o excesso do exercício físico, para não elevar muito a frequência cardíaca, faço uma dieta sem álcool, gordura e sal. Futebol e cervejinha cortei. Minha vida está começando praticamente do zero. Tenho que conseguir um preparo físico melhor, fazer meu recondicionamento vocal, dar um pouco mais de força à voz e retomar a vida. Meu cardiologista disse: ‘Vive pensando que você não tem o pique que tinha e vai conquistando esse ritmo aos poucos”. 

 A volta 
 “Estou mais ansioso do que medroso. Ansioso porque minha vida agora se tornou uma experiência completamente nova. Tudo o que estou vivendo, o período de ausência dos palcos... eu falo que minha vida virou uma televisão, porque eu passei praticamente 6 meses assistindo tudo. Eu não podia fazer as coisas, só tinha que esperar. Fazia repouso, exercícios quase zero, descansei e saí do estresse do dia a dia. Agora, estou redescobrindo os sabores. Minha ansiedade de voltar a trabalhar é descobrir o que isso vai me trazer de bom, qual vai ser o sabor dessa experiência. Conheço os palcos, os meninos. Sim, mas a experiência depois da minha doença eu não sei como será, não consigo imaginar qual vai ser a minha reação. Dá um frio na barriga... A gente já tinha todos os caminhos, anos atrás, hoje não sei. É totalmente diferente. O olhar das pessoas, o meu olhar para a vida. Tudo mudou. A perspectiva mudou. Estou vendo a vida de outro foco. Vou chorar com certeza na minha volta. Isso é mais certo do que eu cantar. Antes de cantar, choro”. 

 A pausa 
 “Eu vivi 20 anos, 24 horas por dia, para o trabalho. Isso me custou um alto preço. Família, amigos, mas principalmente, esqueci de mim. Vivi para o Bruno do Sorriso, me dediquei e me entreguei. O que vai para as pessoas está tudo certo, o que ficou para mim foi o lado que deixei perder. Talvez o motivo da minha doença tenha sido isso. Coloquei minha energia em muitos lugares e não coloquei em mim. Me dediquei talvez de forma errada, poderia ter me dedicado ao meu trabalho, sim. Mas poderia ter dado um pouquinho mais para a minha família, um pouquinho mais para mim. A minha mãe sempre puxa a minha orelha e ela sempre batalhou na minha cabeça. Eu sempre deixei para amanhã. Ir ao médico, por exemplo, sempre foi uma discussão muito grande na minha vida. Não vou ao hospital. Talvez esse preço me trouxe um olhar diferente. Hoje recebi um telefonema para resolver algo para o grupo, hoje não posso. Tenho que ver minha mãe, encontrar minha avó, mas eu tenho que parar em casa”.

 Fora de perigo
 “Tive medo de morrer, de parar. Tive medo de perder a oportunidade de fazer o que eu gosto. E se eu não cantar? Para onde eu vou? O que vou fazer? Como sustento minha família? Como vou ser feliz? Como eu reescrevo minha história? Seria hipocrisia dizer que eu estava otimista somente, acreditando que tudo ia dar certo. Uma hora você pensa e beleza, e se não der? Eu entrei em um estágio muito agudo da doença, que poderia precisar de transplante. Colocamos no papel e isso, mas não chegou a precisar, pois eu evoluí rápido. Hoje estou totalmente fora de perigo. Vivo em quadro moderado, tenho um coração um pouco maior do que o normal, com muito amor (risos). Muitas pessoas vivem assim por anos. Isso não fere muito meu rendimento, mas tenho que ter atenção e de 3 em 3 meses ir ao médico, ir tomando os medicamentos e fazendo o que tem que fazer com pouco mais de atenção”. Saudades “O pior é não poder ir para a rua. Fiquei muito tempo sem dirigir, com alguém dirigindo para mim. Podia dar uma voltinha no supermercado, padaria, fazer as coisas mais simples da vida, como alguém com rotina mais caseira, bem diferente da minha vida. O que mais incomodou foi a espera, os 6 meses pareciam anos. Defini como um joguinho de paciência, esperar e se sentir bem foi a pior batalha. Pareceu uma eternidade. Senti muita da “cachaça” da estrada, de trabalhar. A gente é muito dependente disso. Descobri coisas que já tinha deixado de fazer, meu lado autoral, por exemplo. Voltei a compor. Estava sem fazer música há muito tempo. A canção nova do Sorriso, O Impossível, é minha. Gravamos um clipe agora na Av. Paulista”. 

 Um Bruno melhor
 “Me sinto uma pessoa melhor. A gente acaba sofrendo uma pressão de obrigações, metas e leva muita coisa para dentro do corpo. Nosso corpo paga muito. Hoje sou uma pessoa que releva mais, tem menos embate, discussão, estresse e tiro um pouco do meu corpo as coisas que a gente absorve e acaba levando para dentro de casa. Estou deixo para lá, estou mais zen. Aprendi a dar valor as coisas importantes. Durante esse tempo tive medo, angústia, amor, amizade, compreensão, paciência, responsabilidade, dedicação, mas tentei tirar proveito desses sentimentos. Eles afloraram e fui usando isso para me levantar, acreditar e agir”.

 Amizade verdadeira
 “Eu não tinha noção desse amor. Uma das melhores coisas que aconteceu foi esse movimento gratuito dos amigos querendo ajudar. A gente não pensou marketing, números, foi de coração. As pessoas ligavam, perguntavam o que estava acontecendo, se ofereciam para ajuda, um abraço, fazer show. Todo mundo fez a reflexão: Se fosse eu? Se eu estivesse nessa situação e parasse agora?. As pessoas tomaram um susto e trouxeram essa corrente. Muitas pessoas continuam ligando até hoje. Semana retrasada o Thiaguinho me ligou e contou que sonhou comigo. Passaram 6 meses e as pessoas continuam perguntando se estou precisando de alguma coisa. Muito legal isso”. 
 Thiago Martins no Sorriso Maroto
 “Foi tudo muito lindo e está sendo. O Thiago já era amigo de antes disso tudo, não aconteceu por conta da doença, mas só mostrou a importância que tenho para e vice-versa. A doação foi essa. A lição foi importante. A gente olha para trás e os caras (os companheiros do grupo) rodaram 6 meses no perrengue, improvisando, tentando salvar a coisa. Foi uma doideira, batata quente ferrada. Eu não fiquei com ciúmes do Thiago cantar, achei maior barato. É diferente de mim. É outra coisa. O Thiago é um grande artista e leva o Sorriso para um lugar fora da zona de conforto. O comportamento dele é mais elétrico, de trazer a coisa para uma farra . Eu sou mais comedido, falo mais de amor, sou mais quieto. Esse destempero do comportamento foi bom, o público sentiu uma energia que não estavam acostumados. Mas no início as pessoas pensaram: vou ver se o Thiago vai cantar tão bem, as pessoas vão buscando a voz. E o Thiago foi e entregou uma coisa que é tão legal quanto a voz. Esse contraste foi positivo para nós e para ele. As pessoas saíam do show animadas, ele colocou todo mundo para dançar. Achei maior barato, assisti os vídeos, curti e comentava nas redes. Fiquei participando, zoando. Tinha tempo e ficava vendo igual uma televisão. Virei fã”. 

 Futuro 
“A gente segue a agenda. O Sorriso recebe a minha volta e o Thiago permanece por tempo indeterminado, até para ele sair precisa de um tempo, pois se programou e minha volta seria só em dezembro. Depois de tudo que passaram nada mais justo dele estar na comemoração com o Sorriso. Na minha vida, vou encarar um dia por vez. A vida é muito rápida. Tem que viver o hoje intensamente, sem perder de vista o futuro, mas fazer as coisas pensando no hoje e entregar o máximo que puder. Se puder dizer eu te amo, diga. Se puder abraçar seu pai, mãe e irmão, faça hoje e não deixe para amanhã”. 

 Fãs 
“As pessoas passaram a ir para o show de forma diferente. A sensação que eu tinha é de que as pessoas não estavam pensando em ir para beber uma cerveja, azarar ou procurar namorado. As pessoas foram lá para cantar por mim, pela banda, tinham um propósito. Os fãs encararam aquele momento como um vou fazer a minha parte , vou entregar minha energia, fazer algo para ecoar ate o Bruno, os meninos, para eles entenderem que estamos aqui. Eu entrava nas redes e reparava isso em um olhar, na forma com que as pessoas cantavam, era diferente. Está sendo diferente e me emocionava muito”.

FONTE/QUEM

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