domingo, 21 de novembro de 2010

ENTREVISTA

Fletcher para presidente

Da esquerda: Zoli Teglas, o novo vocalista, ao lado do baterista Byron McMackin, do baixista Randy Bradbury e do guitarrista e líder da banda Fletcher Dragge

Fletcher Dragge, guitarrista e fundador do Pennywise, instituição do punk californiano, volta ao Brasil para quatro shows em novembro e garante que resolveria os problemas da América de graça em um ano
Por Jardel Sebba
O que aconteceu com o vocalista original de vocês, Jim Lindberg,
que deixou a banda ano passado?
Ele ficou com a gente esses dezoito anos, e de repente decidiu que não queria mais fazer isso da vida. O interessante dessa história é que o motivo foi justamente a sua recusa em participar dessa turnê sul-americana. A gente já vinha tendo problemas com ele durante as turnês por alguns anos, porque Jim não gostava de excursionar, queria ficar em casa com a família. Estávamos preparando uma lista de países que gostaríamos de visitar ano passado, e o Brasil é um lugar que vamos há, sei lá, doze, treze anos, e sempre tivemos ótimos momentos aí. Houve uma oferta de turnê aí e ele se recusou a ir.

O Pennywise é uma banda muito democrática, tudo é decidido no voto, até porque é sobre isso que a gente canta, sobre liberdade e igualdade. Não havia motivos para não irmos à América do Sul, tem alguns dos nossos melhores fãs, ótima comida, ótimas pessoas, somos sempre muito bem tratados, e ele disse que não ia mesmo, que a família era sua prioridade, então começamos uma grande discussão e o passo seguinte foi a saída dele. Agora temos Zoli Teglas, que cantava no Ignite e passou a ser nosso vocalista, e voltamos a tocar músicas que não tocávamos há dez anos porque Jim não gostava delas. Estamos fazendo um show bem old school, com um set list bem interessante. Acho que os fãs vão entender essa nova energia da banda.

Vocês fizeram audições para encontrar o novo vocalista?
Sim, com cerca de cinquenta cantores, alguns velhos conhecidos da cena punk, e também pessoas de todas as partes do mundo que tinham suas bandas. Mas Zoli já havia cantado conosco logo que Jim saiu, e se encaixou no pacote completo, não só como cantor. Tem preocupações parecidas com as nossas, faz muito trabalho voluntário, entende a mensagem do Pennywise. Outros cantores foram bem, mas ele foi muito bem, e já era um bom amigo. Nos primeiros seis meses é sempre difícil, todo mundo precisa se acostumar, encontrar seu lugar na nova formação, mas agora ele já está bem adaptado e estamos fazendo ótimos shows juntos.

Na equipe da PLAYBOY brasileira há um grande fã de vocês que viu o show de 4 de junho de 2009 no Club Nokia de Los Angeles. Aquele foi o último show com Jim?
Engraçado, acho que ele estava planejando deixar a banda de qualquer jeito, porque nessa noite no Club Nokia Jim disse ao nosso empresário que era seu último show. E nós não tínhamos ideia disso, porque já tínhamos marcado um show na Suécia e outro no Canadá. Depois do show do Canadá tivemos a reunião sobre a turnê na América do Sul e houve a discussão. Ele dizia que a mulher dele estava em casa com três filhos e precisava de uma babá para poder sair em turnê. Nós nos oferecemos, os três, a pagar do nosso bolso pela babá cada vez que a banda excursionasse. Fizemos tudo o que podíamos para mantê-lo na banda, e ele disse: não vou ao Brasil, aconteça o que acontecer.

 Nós não queríamos perdê-lo, esse era o problema. Tivemos uma conversa coletiva por e-mail, e estava claro para mim que as coisas não iam avançar. Nós somos o Pennywise, ajudamos uns aos outros, damos suporte àquilo que acreditamos, e não deixamos que ninguém venha nos dizer o que fazer, mesmo que essa pessoa seja o nosso vocalista. Mas, respondendo sua pergunta, o último show de fato com ele foi o do Canadá.

Você identifica novas bandas no cenário punk californiano que carregam o legado que vocês e outras bandas da sua geração iniciaram?
Não há tantas atualmente, há algumas bandas pequenas das quais ninguém ouviu falar ainda, como o The Darlings. O The Casualties também é um bom exemplo de grupo que carrega a bandeira do punk hoje. Mas a indústria da música é tão diversificada que não há mais exatamente uma cena para cada coisa. Claro, há um cenário punk, mas esse cara que está ouvindo punk provavelmente ouve também My Chemical Romance ou Eminem ou Slayer. Não lembro de ter ouvido uma banda nos moldes tradicionais, talvez a Rise Against, que não é californiana, mas de Chicago.

O Pennywise sempre externou suas posições políticas.
Como você avalia o governo Obama até agora?
É como qualquer outro governo, temos um presidente que recebe dinheiro das corporações e interesses privados para concorrer ao cargo. É sempre a mesma situação, os candidatos pequenos são deixados de lado porque não têm dinheiro o bastante e ninguém quer ouvir o que eles têm para dizer. Enquanto isso continuar, teremos presidentes que são apenas marionetes. O que os Estados Unidos precisam é de um líder de um partido independente, ou do Partido Verde, que entre na presidência e mude tudo, tente um modelo completamente diferente. Se eu virasse presidente amanhã, faria isso de graça, me dê água e comida e eu resolvo os problemas em um ano. Nós ainda estamos preocupados em ir para a guerra ou com o terrorismo, e não conseguimos pensar em nada além disso. A gente deveria relaxar, em vez de ficar invadindo os países alheios

AGENDA
O Pennywise se apresenta em São Paulo no Via Funchal dia 3 de dezembro
(ingressos entre R$ 120 e R$ 200 em www.viafunchal.com.br).
Antes eles fazem um show em Fortaleza, no dia 2, e depois seguem para
Rio (dia 4) e Curitiba (dia 5).

FONTE\ABRIL

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